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O HOLANDÊS ERRANTE – ÓPERA DE RICHARD WAGNER

Av. Afonso Pena, 1.537 – Centro

Grande Teatro do Palácio das Artes

( (31) 3236-7400

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: 20, 22, 24 e 26 de outubro, às 20 28 de outubro (domingo), às 19h


Primeira grande ópera composta por Richard Wagner, O Holandês Errante é a nova produção da Fundação Clóvis Salgado. Inédita em Minas Gerais, a montagem, baseada no libreto do próprio compositor, narra a busca pelo amor inalcançável entre uma jovem que vive em uma vila portuária banhada pelo mar da Noruega, e um marinheiro amaldiçoado. O palco do Grande Teatro do Palácio das Artes vai se transformar em um ambiente em que o mundo da fantasia, representado pelo capitão do Holandês e sua tripulação fantasmagórica, encontra o mundo real. Nesse cruzamento de destinos, o próprio cenário é um elemento à parte na narrativa, com elementos suspensos e alusivos, ora pendendo para o peso e a realidade da vila, ora flutuando entre a existência e as errâncias do Holandês.

Ambientada em meados do século XIX, o drama revela a profundidade de uma sociedade conservadora, observada pelo estrangeiro condenado a errar pelos mares eternamente, até encontrar o amor de uma mulher que vai libertá-lo da maldição. Com direção musical e regência de Silvio Viegas e concepção e direção cênica de Pablo Maritano, O Holandês Errante conta com a Orquestra Sinfônica e o Coral Lírico de Minas Gerais no elenco. Protagonizando a história estão o barítono argentino Hernan Iturralde, no papel de capitão do navio, a soprano Tati Helene, como Senta, o baixo Savio Sperandio, interpretando Daland, a mezzosoprano Denise de Freitas como Mary, o tenor Paulo Mandarino, como Erick, e Gustavo Eda, no papel de Timoneiro.

Inspirada no poema homônimo de Heinrich Heine, que por sua vez foi inspirado em um conto nórdico, O Holandês Errante conta a história da trágica existência de um homem condenado a navegar pelos mares por toda eternidade em seu navio. O capitão da embarcação jurou dobrar o Cabo da Boa Esperança, mesmo que precisasse fazer isso para sempre. Ouvindo o juramento, o diabo condenou-o a velejar até o dia do Juízo Final sem esperança de redenção, a menos que encontrasse uma mulher capaz de amá-lo fielmente até a morte.

De sete em sete anos, ele é autorizado a desembarcar em busca daquela que o livrará da maldição. Em uma de suas muitas viagens, o capitão (Hernan Iturralde) ancora seu navio ao lado do navio de Daland (Savio Sperandio), ao qual oferece tesouros em troca de abrigo. Ao chegarem na vila, o Holandês conhece Senta (Tati Helene), filha de Daland e que sempre fora fascinada pela figura misteriosa por trás da lenda do viajante errante, representada em um quadro. Prometida ao caçador Erick (Paulo Mandarino), a jovem enfrenta um duelo entre os sentimentos que já alimenta pelo marinheiro, o compromisso com Erick e o trágico destino que se aproxima.

Narrativas sonoras – O maestro Silvio Viegas destaca a música de O Holandês Errante como o grande destaque dessa produção inédita no repertório da FCS. Além da grande dramaticidade em cada naipe, as partituras trazem um recurso que se tornaria marca registrada na obra do compositor saxão: os leitmotivs, ou motivos condutores, pequenos temas musicais que, ao longo de toda a história, estão associados a personagem, objeto ou emoção.

“A música de Wagner é muito poderosa, muito bem escrita para a orquestra. As sonoridades são brilhantes e representam, sempre, um desafio para cada instrumento. Ele trata a orquestra de uma forma muito rica, muito variada, ele escreve muito bem para cada naipe. É difícil de tocar, mas a recompensa final é vista e ouvida de forma muito clara para todos os músicos. A escolha de O Holandês tem muito a ver com a escrita orquestral. Com os leitmotivs que vão sendo executados ao longo de toda a obra, existe a sensação de imersão nesse drama”, destaca Silvio Viegas.

Antes de o Holandês Errante, Wagner compôs outras três óperas: As Fadas (1833-1834), Amor Proibido (1835-1836) e Rienzi (1838-1840). Mas o sucesso do compositor com esse estilo se consolidou após uma viagem a Estônia, quando enfrentou uma tempestade em alto mar. O poder da natureza inspirou o compositor a criar sua própria sinfonia baseada no poema de Heinrich Heine, estabelecendo, com essa história, um novo padrão operístico, já que as óperas do compositor eram, ainda, muito influenciadas pela escola italiana.

Ao contrário das outras obras, O Holandês Errante já apresenta uma unidade sonora e dramática na composição que serão características futuras do compositor. “A escolha de ‘O Holandês Errante’ tem muito a ver com a escrita musical do próprio Wagner. Após as três óperas que ele havia composto, essa é a primeira que reúne as características mais impressionantes. O seccionamento já não é tão claro, com as árias, duetos eensembles tão marcados. A estrutura da obra e a própria duração da ópera são elementos muito fortes no universo wagneriano. Ele compõe para todos os instrumentos. No Holandês, por exemplo, há solos para a quarta trompa, o segundo fagote. Isso é algo muito marcante e, também, muito prazeroso para os músicos”, destaca Silvio Viegas.

Por se tratar da primeira montagem de Wagner em Minas Gerais, a composição demanda grande atuação dos corpos artísticos da Fundação Clóvis Salgado, que vem de uma sequência de produções inéditas, com as óperas Romeu e Julieta (2016), de Charles Gounod, Norma (2017), de Bellini e Porgy and Bess (2017), de Gershwin. Além disso, Silvio Viegas aponta a maturidade dos grupos para encarar esse grande desafio. “Wagner não é dos compositores mais fáceis. São harmonias complexas, melodias envolventes com todos os ingredientes que uma grande ópera exige. A qualidade da nossa orquestra e do nosso coro nos permite oferecer ao público mais uma produção inédita e de excelência”, comemora Viegas.

Fantasia e existencialismo – Com direção cênica de Pablo Maritano, O Holandês Errante foi ambientada em uma vila portuária da Noruega, na segunda metade da década de 1800. Em meio a uma sociedade fechada e conservadora, surge a figura do outcast – o observador ou estrangeiro, que atraca no local, na esperança de encontrar sua redenção. Segundo Pablo Maritano, essa presença não altera a dinâmica do ambiente. “O Holandês representa essa figura isolada, que ao mesmo tempo em que está conectado com a realidade daquele local, tem esse quê fantasioso, místico, por conta da lenda”, comenta o diretor.

Para Maritano, além da fantasia wagneriana, um elemento importante na montagem é o mar. Na concepção cênica do diretor, esse elemento, que não é visível ao público, existe como um símbolo da complexidade do universo que envolve o Holandês em sua nova errância. “O mar representa um aspecto que a humanidade quer esconder e que se revela claramente quando os protagonistas se encontram. As angústias de cada um os unem e os separam do universo humano. Em suas perguntas sobre o sentido da vida e do amor, há o reconhecimento do abismo que existe dentro de cada ser e o desejo de morte”, destaca.

Um paradoxo que existe na obra é a balada de Senta, ária que o diretor destaca como fundamental para conectar dois mundos opostos, já que é nesse momento que a história do Holandês é contada pela protagonista. “É a narrativa dentro da própria narrativa que está no centro da obra. Outro paradoxo poderoso é a sua coerência interna, já que Wagner pensou em uma ópera sem intervalos, em que os três atos se complementam e criam uma unidade com o drama de uma mulher que não se encaixa em seu mundo e decide abandoná-lo”, conclui Maritano.

Vozes estreantes – A primeira montagem de O Holandês Errante em Minas Gerais também marca a estreia dos protagonistas da história, a paulista Tati Helene e o argentino Hernan Iturralde nos palcos mineiros. Tati, que já interpretou Senta em 2013 no Festival de Ópera do Theatro da Paz, em Belém, destaca sua personagem como uma mulher à frente do seu tempo. Ao contrário do capitão do Holandês, que apenas observa a dinâmica da sociedade, Senta é a responsável por quebrar a rotina cotidiana ao se apaixonar pela figura enigmática.

“Senta é uma personagem extremamente complexa, pois é, ainda, uma jovem que vive de acordo com os padrões da sociedade, mas que conhece uma lenda que a tira daquele lugar. O tempo inteiro as árias dela são carregadas de emoção, o que é comum nas óperas de Wagner. Interpretar Senta exige muita explosão vocal, muito vigor, pois a escrita wagneriana é sempre imperativa para solistas”, destaca a soprano.

Além de estrear nos palcos mineiros, o argentino Hernan Iturralde faz sua estreia também em uma ópera de Wagner. Para ele, o grande destaque na história de amor vivida entre os personagens é o paradoxo que eles representam ao longo de todo o drama. “Ele chega à vila e desperta a paixão da jovem, o desejo de não fazer mais parte daquele mundo. Assim como as árias de Senta, todas as canções do Holandês vêm carregadas de emoção, há uma alternância, mas a vivacidade é o que mais se destaca nesse repertório”, comenta Hernan.

Cenário, figurino e luz – O cenário de O Holandês Errante é uma criação do cenógrafo Renato Theobaldo e apresenta um aspecto sóbrio e abstrato. Seguindo a mesma linha do encontro entre um mundo fantástico em um ambiente realista, os adereços cênicos estarão dispostos no palco de forma a criar sensações no público. Theobaldo propõe uma retórica decorativa, partindo de um ponto ou ambiente mais realista. Escadas, cadeiras, mesas e outros objetos estarão suspensos em alguns momentos do espetáculo, como se flutuassem.

O cenógrafo pretende criar a ilusão, ao mesmo tempo em que evoca aspectos psicológicos dos personagens da história. “A cenografia é mais transcendente nessa montagem. O peso da existência dos personagens é um contraponto com a história fantasiosa de amor e fantasmas. Então, o cenário quase que como um todo, está sob um aspecto mais indicativo. Nenhum elemento em cena indica exatamente o que está presente em cena, mas sim o que é possível imaginar a partir disso”, destaca.

Já o figurino de O Holandês Errante é assinado por Sayonara Lopes, que já trabalhou nas óperas Romeu e Julieta (2016), Norma (2017) e Porgy and Bess (2017), da FCS. Para essa nova produção, as vestimentas do elenco refletem o universo fechado da vila onde a história é ambientada. Predominam, na paleta de cores, tons mais escuros, como o preto e o marrom, além das cores sóbrias, como o cinza e o bege.

Apenas a protagonista da história é vestida com cores mais vibrantes, como o vermelho e o azul. “Como todos ali estão inseridos nessa sociedade mais pesada, mais complexa, o figurino é um pouco o reflexo dessas pessoas. A Senta já é o ponto fora da curva, então ela sempre se destaca pelas cores mais quentes e o tom de jovialidade em todo o conjunto”, destaca Sayonara.

A iluminação é assinada por Marina Arthuzi, Rodrigo Marçal e Jésus Lataliza. No desenho de iluminação, a proposta é fazer um contraste com equipamentos mais contemporâneos, como os iluminadores de led, ao mesmo tempo em que se preserva a frieza do ambiente, com tons mais pálidos. “Vamos criar um clima mais sombrio, de um lugar banhado pelo mar. A iluminação também precisa ser equilibrada, para dar uma certa leveza em alguns momentos importantes da ópera, como a chegada do Holandês ou o encontro entre os dois protagonistas”, pontua Marina.

Do Navio Fantasma ao Holandês Errante – Comumente chamada de O Navio Fantasma ou O Holandês Voador, essa composição tem tido sua tradução alterada ao longo do tempo. Para a primeira montagem em Minas Gerais, optou-se pelo título O Holandês Errante. A maioria dos idiomas prefere traduzir Der Fliegende Holländer como O Holandês Voador. No entanto, tradutores espanhóis optaram pelo título O Holandês Errante. No francês, a ópera foi nomeada como O Navio Fantasma.

Seguindo uma tendência de época, as traduções para o português se basearam na tradução francesa e consolidaram o título O Navio Fantasmanos países de língua portuguesa. Para manter a coerência entre as primeiras traduções e a concepção original de Wagner, optou-se por um título que indicasse todo o grande drama existente na narrativa. “Essa é uma história em que destino, amor, poder, dinheiro, fidelidade, vida e morte condensam-se em tempestuosas nuvens e ondas que conduzem a vida humana também nos períodos de calmaria, temperando e salgando a própria existência. Desafiar, tentar, vagar, errar, são verbos conjugados e musicados nessa ópera pela genial pena de Wagner”, destaca Augusto Nunes-Filho, presidente da Fundação Clóvis Salgado.

Foto: Paulo Lacerda


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