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PORGY AND BESS, ópera de George Gershwin

Av. Afonso Pena, 1537 - Centro - Belo Horizonte/MG

Grande Teatro do Palácio das Artes

R$60 (inteira) e R$30 (meia-entrada)

Récitas: 21, 23, 25, 27 e 31 de outubro, às 20h 29 de outubro (domingo), às 19h


Pela primeira vez, a Fundação Clóvis Salgado realiza a montagem de Porgy and Bess, ópera de George Gershwin, com libreto de DuBose Heyward, e letras de Heyward e Ira Gershwin. Considerada a obra prima da produção operística norte-americana, a montagem, inovadora, reúne um elenco formado integralmente por solistas negros brasileiros, com destacadas carreiras nacionais e internacionais.

Com direção musical e regência de Silvio Viegas e concepção e direção cênica de Fernando Bicudo, Porgy and Bess será apresentada em dois atos e conta com a Orquestra Sinfônica e o Coral Lírico de Minas Gerais, a Cia. de Dança Palácio das Artes e o Coral Infantojuvenil Cefart. Protagonizando a história, Luiz-Ottavio Faria, no papel de Porgy; e Marly Montoni, interpretando Bess.

Completam o elenco da montagem, os solistas Michel de Souza (Crown), Eliseth Gomes (Serena), Nabila Dandara (Clara), Juliana Taino(Maria), Cristiano Rocha (Jake), Geilson Santos (Spoting Life), Lucas Damasceno (Mingo), Carlos Átilia (Robbins/Nelson/Crab man), LucasViana (Peter), Indaiara Patrocínio (Annie/Strawberry woman/Lilly), Antônio Marcos Batista (Jim/Undertaker), Emerson Oliveira (Jasbo Brown), Luciano Luppi (Police/Coronel) e Henrique Luppi (Detetive).

Além das árias, além da ópera – Aclamada mundialmente por seu estilo inovador, a montagem que chega ao Grande Teatro do Palácio das Artes atualiza a história contada por Gershwin nos anos 1930 – na qual um mendigo, deficiente físico, conta sobre sua tentativa de resgatar sua amada Bess dos braços de Crown, um homem violento e possessivo, e do traficante Sporting Life. No lugar do bairro Catfish Row, na Carolina do Sul, nos EUA, onde a história é originalmente contada, a produção da FCS é ambientada em uma comunidade pobre brasileira, mantendo o caráter universal da montagem e a beleza sonora das árias que ultrapassaram os palcos.

Porgy and Bess rompe com os tradicionais padrões das produções operísticas ao misturar diferentes elementos musicais à composição. Das famosas árias que, posteriormente, se tornaram canções conhecidas do grande público na voz de diferentes artistas, à temática, que envolve profundas questões raciais e culturais do povo negro norte-americano, a obra é considerada uma ópera-jazz.

Para Silvio Viegas, regente da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e diretor musical desta produção, Porgy and Bess conseguiu transpor o ambiente cênico, graças às árias marcantes que mesclam o erudito e o popular. “Tenho pensado Porgy and Bess menos como uma ópera e mais como um musical. A vocalidade muito operística tem sido evitada, e o espetáculo mescla muitas palavras cantadas com palavras faladas”, destaca.

Nesta montagem, a amplitude vocal de cada cantor será um destaque a mais durante as récitas. Silvio Viegas explica que, por quebrar com os tradicionais padrões do canto lírico, Porgy and Bess é uma ópera que exige maior potência vocal dos artistas. “A voz dos cantores precisa ser empostada, pois é necessário ter projeção que tenda mais para o belting, técnica vocal característica dos musicais, utilizada para produzir uma voz mais clara e projetada, do que para o canto lírico. Porgy and Bess possui uma força religiosa muito grande, e a sonoridade negra norte americana comum no canto das igrejas deve ser preservada. Por isso, é necessário que os solistas tenham toda essa potência ao entrar em cena”, pontua o maestro.

Devido à forte musicalidade em suas árias, Porgy and Bess ultrapassou os palcos dos principais teatros norte-americanos e ganhou o gosto popular. Inúmeros artistas já regravaram, em versão de estúdio, algumas das canções do repertório da ópera. Um dos exemplos éSummertime, que se tornou um popular standard do jazz e ficou mundialmente conhecida nas vozes de artistas como Janis Joplin,Sublime, The Zombies, Ella Fitzgerald e Billie Holiday.

Outras árias como It Ain't Necessarily So, já regravada por Cher; Bess, You Is My Woman Now, que ganhou versão na voz de MarisaMonte; I Loves You Porgy, adaptada para o jazz na voz de Nina Simone e I Got Plenty o' Nuttin, interpretada por Frank Sinatra, fazem parte das canções de Porgy and Bess que se tornaram mais conhecidas do que a própria ópera.

Reinventando uma história – Responsável pela concepção e pela direção cênica de Porgy and Bess, Fernando Bicudo volta a contar essa história após três décadas. A primeira vez que participou de Porgy and Bess, em 1986, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, o diretor revela que houve uma grande dificuldade em encontrar solistas negros e brasileiros para o elenco.

“À época, tivemos que contratar estrangeiros para interpretar os principais personagens da ópera, pois não havia suficientes cantores líricos negros no Rio de Janeiro. Para que eu pudesse montar a ópera, tive que trazer 16 cantores de Nova York. Hoje, estamos montando Porgy and Bess em Belo Horizonte com um elenco totalmente nacional. Isso é motivo de orgulho e me deixa muito feliz”, comemora Fernando Bicudo.

O diretor espera fazer história, com essa nova produção, reunindo apenas solistas negros no elenco principal. Para ele, é fundamental que o público entenda a importância da montagem, em todos os sentidos, tanto o musical quanto o histórico, já que Porgy and Bess foi uma produção que, à época da estreia, nos anos 1930, gerou controvérsias e polêmicas por tratar da questão racial nos EUA.

“Porgy and Bess, antes de ser uma ópera linda, que faz parte do repertório tradicional das grandes montagens, é uma vitória da justiça social. É a arte negra, a cultura negra, a música negra, a estética negra sendo protagonistas de um grande espetáculo. Isso, sem dúvidas, é histórico para nós, para a Fundação Clóvis Salgado, e para o público, que terá a chance de apreciar essa riquíssima produção”, finaliza o diretor.

Referências e movimentos – Mais uma vez, a Cia. de Dança Palácio das Artes integra o elenco de uma montagem operística da FCS. Em Porgy and Bess, o corpo artístico traz uma proposta coreográfica que é repleta de referências de danças típicas da cultura negra. Criação de Cristiano Reis, regente da CDPA, a coreografia mescla movimentos da dança jazz, do hip-hop e do break, a ritmos tipicamente brasileiros, como funk carioca e o axé.

A representatividade da Cia. de Dança nessa montagem também passa por outras questões. As drag queens Babaya Samambaia e NaDjaKai Kai, personagens dos bailarinos Carlos Gomes e Lucas Medeiros, vão interpretar duas mulheres trans, demonstrando um claro diálogo da nova concepção da ópera com os dias atuais.

Releituras da contemporaneidade – Os figurinos de Porgy and Bess são assinados por Sayonara Lopes, que buscou inspirações no vestuário dos homens e mulheres das comunidades de Belo Horizonte. Cores fortes, tênis, meias-arrastão, shorts curtos, minivestidos, bonés, toucas, botas longas e saltos altos ganham destaque na indumentária da ópera. Sayonara explica que a criação do figurino foi um desafio para ela, uma vez que as peças foram pensadas para espelhar, sem metáforas ou estereótipos, o cotidiano dos moradores da comunidade.

“As peças representam um mundo desejado e distante, e a mistura de elementos improváveis, díspares, compõem uma forma de exclusiva graça. Tomei de empréstimo as formas concretas de vestirem-se, a beleza do uso excessivo e concomitante de elementos fortes, roupas bem urbanas. Os personagens da comunidade demonstram capacidade sui generis de reinventar, com incrível agilidade, os últimos lançamentos do mundo fashion, um mundo desejado e distante”, explica a figurinista.

Inspirações cênicas – O cenário da ópera é uma criação da cenógrafa Desirée Bastos e faz uma transposição entre espaço e tempo, mantendo traços da versão original, que foi inspirada em um cortiço que ficava em Charleston, na Carolina do Sul. Na montagem da FCS, a história se ambienta em uma comunidade nascida a partir da ocupação de uma mansão à beira mar. “Pequenas casinhas crescem tendo como base a grande estrutura da mansão. A espacialidade é configurada por planos, níveis, escadas, becos, lajes e especialmente na penetrabilidade de um ambiente a outro”, comenta Desirée.

O espaço urbano, apropriado pela cultura marginalizada, e as festas e movimentos culturais nascidos sob viadutos, como o de Santa Tereza, berço da cultura de rua em Belo Horizonte, e o de Madureira, no Rio de Janeiro, local onde surgiu o movimento Charme, também serviram como referências para a criação do cenário de Porgy and Bess, que propõe um diálogo com a arte urbana. Um grande mural de 3mX16m, feito por Antônio Lima, assistente de cenografia, traz referências ao picho e ao grafite.

Pedro Pederneiras assina a iluminação do espetáculo. O desenho da luz foi pensando para dialogar diretamente com as cenas, que acontecem, ao mesmo tempo, em diferentes níveis do cenário. “O desafio do iluminador nessa montagem é saber dosar a luz nos momentos certos, que podem ser, ora intimistas, ora mais abertos. É uma grande responsabilidade conseguir iluminar essa ópera, que eu já conheço há muito tempo. Espero que, assim como o elenco, eu também possa surpreender o público”, comenta.

Foto: Paulo Lacerda


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