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Arqueologia musical

Projeto resgata partituras inéditas de consagrados autores da música erudita brasileira. As obras foram selecionadas em arquivos musicais de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo O país está prestes a conhecer um legado inédito de compositores eruditos que marcaram a música brasileira. Graças ao projeto "Patrimônio Arquivístico Musical Mineiro – PAMM", da Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais, iniciado em dezembro de 2006, serão editados e lançados, em edições bilíngües, três álbuns de partituras, de seis diferentes autores mineiros dos séculos XVIII, XIX e início do século XX, totalizando nove volumes, acompanhados de CD-ROM com textos e partituras para impressão que serão doados para escolas de músicas e bibliotecas. O primeiro álbum traz obras de José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita, Jerônimo de Sousa e Francisco Valle, resultado de um trabalho de pesquisa em acervos musicais de Minas, Rio de Janeiro e São Paulo, realizado pelo musicólogo paulista Paulo Castagna, convidado da Secretaria para ser o coordenador técnico do projeto. Também será lançado um site, que disponibilizará todo o conteúdo do projeto, inclusive as partituras restauradas - www.cultura.mg.gov.br/pamm. O lançamento do "PAMM" acontecerá no dia 11 de março, às 20h30, no Grande Teatro do Palácio das Artes, em Belo Horizonte, e será marcado pela apresentação da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais (OSMG) e do Coral Lírico. Sob regência do maestro Afrânio Lacerda, serão apresentadas obras inéditas de Lobo de Mesquita, Jerônimo de Sousa e Francisco Valle – “Beata Mater” e “Ladainha de Nossa Senhora”, de Lobo de Mesquita, “Ladainha de Nossa Senhora” e “Vide Domine, Quoniam Tributar”, de Jerônimo de Sousa, e “Valse Scherzo”, de Francisco Valle -, com a participação dos solistas mineiros Lília Assumpção (soprano), Luciano Monteiro (contralto), Mauro Chantal (baix), e Marcos Thadeu (tenor), que hoje faz carreira em São Paulo. O concerto será gravado e editado em CD e DVD. “Um dos nossos compromissos à frente da Secretaria de Cultura é dar acesso aos verdadeiros tesouros que estamos garimpando, seja por meio da publicação de livros, do lançamento de cd´s ou da disponibilidade de todo o material na internet”, pontua a secretária de Estado de Cultura de Minas Gerais, Eleonora Santa Rosa, para quem a riqueza do patrimônio imaterial mineiro é tão representativa quanto seu patrimônio material. “Trazer um legado como o desses compositores para a população em geral é a certeza de sensibilizar para a conservação de nossos bens, pois só cuidamos do que conhecemos.” A secretária conta que disponibilizar essas partituras para download na internet possibilita um acesso universal à história da música brasileira. “A pessoa pode buscar a partitura, imprimir e executar uma peça inédita de um autor brasileiro em qualquer lugar do mundo”, exemplifica Eleonora Santa Rosa. Patrimônio Arquivístico Musical Mineiro – PAMM Partituras esquecidas, desgastadas pelo tempo, ganham vida para a execução, depois de quase dois séculos. A partir do verdadeiro trabalho de garimpo em cerca de 13 acervos musicais, passando por Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, foram selecionados e restaurados manuscritos que vão propiciar o acesso a músicas e composições inéditas de consagrados autores mineiros. “É como se fosse uma arqueologia musical. Foi necessário um trabalho minucioso de pesquisa, que exigiu dedicação, experiência e conhecimento. Algumas partituras apresentavam desgaste do tempo e precisaram ser recompostas por meio digital. Outras estavam incompletas, com folhas espalhadas em diferentes acervos do país. O projeto permite que as pessoas usufruam de um patrimônio musical até então desconhecido”, explica o musicólogo Paulo Castagna, ressaltando que o projeto traz, além das partituras, as partes de cada instrumento, o que facilita a execução da obra. Castagna pontua que, pela primeira vez, a música erudita é tratada como patrimônio, lembrando que a composição musical, em Minas Gerais, iniciou-se no final do século XVIII. “A música é tão rica e volumosa quanto qualquer outro bem material. Com o projeto, a Secretaria de Cultura oficializa a música orquestral como patrimônio imaterial com a mesma magnitude já reconhecida para o patrimônio material ou físico do Estado.” A principal característica deste projeto, patrocinado pela Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais e pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), é o fato de ele beber em fontes distintas de vários acervos. Paulo Castagna, verdadeiro bandeirante moderno em busca das riquezas musicais brasileiras, explica que pela primeira vez na história da música no Brasil foram realizadas pesquisas em diversos arquivos. “Em geral, este tipo de trabalho concentra-se em fontes de apenas um acervo. Para a primeira etapa do projeto, estudamos diferentes fontes para cada obra, com pesquisas realizadas em cerca de 13 acervos musicais. Essa diversidade de fontes assegura um resultado mais próximo do original, com uma edição muito mais fiel das versões das peças produzidas pelos compositores.” O musicólogo adianta que uma das revelações do trabalho, até o momento, é a obra de Francisco Valle, compositor de Juiz de Fora, do final do século XIX. Além de fazer parte do primeiro álbum do projeto, os manuscritos serão doados pelos herdeiros da obra do autor, ao Arquivo Público Mineiro, garantindo a conservação e a consulta por músicos e pesquisadores de todo o país. Após a morte de Francisco Valle, o acervo foi guardado por várias pessoas, principalmente por Américo Pereira, sendo o seu arquivo transferido, posteriormente, para Alberto e Cyro Valle. A doação simbólica do acervo será feita por Cyro Valle, durante o lançamento do projeto, no dia 11 de março. “O que diferencia Francisco Valle dos demais autores que serão editados neste projeto é seu estilo romântico e seu importante trabalho com a música sinfônica”, esclarece Castagna, relatando que o autor compôs música orquestral, de câmara, para piano e para coro e orquestra. “Ele ainda não havia sido foco de qualquer projeto porque não se conhecia o paradeiro da maior parte de sua produção, que acabamos por encontrar no poder de Alberto e Cyro Valle, em São Paulo. Por isso, nenhuma obra sinfônica do compositor havia sido impressa, apenas duas peças para piano foram publicadas até hoje. A partir de agora, com o projeto, podemos resgatar grande parte da sua obra e disponibilizar ao público, além de colocar Minas no circuito da música romântica brasileira”, explica. Além de Francisco Valle, o primeiro álbum do projeto "Patrimônio Arquivístico Musical Mineiro" traz outros dois autores importantes para a música sacra: Lobo de Mesquita, compositor clássico do século XVIII, da região de Diamantina, e Jerônimo de Sousa, na verdade um mesmo nome usado por três pessoas, entre elas pai e filho (Jerônimo de Sousa Lobo e Jerônimo de Sousa Queirós), compositores clássicos de Ouro Preto, que viveram na transição do século XVIII para o XIX. Castagna adianta que para os próximos volumes já estão sendo definidos os autores e os acervos, que serão visitados ainda neste ano.

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