Notícias

Grupo Porco explora o instrumental do funk para dar vazão à raiva política no novo EP “Robode”

Logo após o encerramento do ciclo de divulgação de “O Futuro Vai Ser Pior” (2020), o novo registro atualiza um manifesto político em meio a baterias 808 e um personagem fictício redentor

Conhecido há mais de uma década no cenário de rock alternativo brasileiro, Thiago Machado, o Porquinho (UDR, Fodastic Brenfers, Polly Terror), é o artista por trás do projeto Grupo Porco, e o produtor incansável de lançamentos que sempre apresentam novas camadas de estética sonora - sempre dentro daquilo que o próprio compositor chama de “grindcore interpretativo”.

Em novembro de 2020, o “Futuro Vai Ser Pior”, último lançamento do Grupo, chegou às plataformas de streaming e à mídia especializada como um disco repleto de participações especiais (11 artistas de todo o país convidados) produzido de forma autônoma em meio à pandemia, carregando um conceito denso explícito no próprio título.

Desta vez, o projeto se propôs a entregar um trabalho que se expressa através da música instrumental, construindo camadas de guitarras, baixos e sintetizadores sempre a partir de experimentações rítmicas, como é o caso da exploração da bateria 808. “Robode” conta com três faixas e chega às plataformas de streaming na próxima sexta-feira (09/04), pelos selos Abraxas (RJ) e Geração Perdida (MG). Além disso, a primeira faixa do EP ganhou um videoclipe dirigido pelo próprio Porquinho, que será lançado simultaneamente no mesmo dia no Youtube do Grupo Porco.

“Robode”

“No réveillon de 2020 para 2021 eu escutei muito funk mineiro novo e alguns 150bpm, fiquei apaixonado com a estrutura das músicas, achei genial e neste momento já coloquei na minha cabeça que iria tentar fazer algo assim. A ideia não seria só reproduzir o que eu estava ouvindo, mas misturar com o que eu já faço, que no caso é este metal experimental que eu chamo de grindcore interpretativo. O objetivo, então, foi começar com estruturas mais próximas do Miami Bass e acrescentar elementos do punk, djent e breakcore”, explica Porquinho.

Tendo como principais influências bandas/projetos como Afrika Bambaataa, The Armed, Renan da Penha e Retrigger, o Grupo Porco iniciou seu processo de composição do EP de forma orgânica, sem ter em mente a necessidade de um trabalho coerente e conciso para lançamento. No entanto, diferentemente do último álbum lançado, que demorou praticamente um ano para ser gestado, “Robode” teve seu processo de produção fechado em 3 meses no início de 2021.

Ainda que sem qualquer composição lírica, o novo EP “Robode” apresenta mensagens evidentes de vazão da indignação com a realidade política atual no país e imagens de personagens fictícios improváveis - característica já conhecida dos trabalhos de Porquinho -, através dos títulos das faixas e da capa do lançamento.

Em meio a guitarras de 7 cordas, pedais pitch shifter, construções rítmicas inspiradas no Miami Bass e violões inesperados, a agressividade culminada no personagem “Robode” evidencia a enunciação do projeto pautada na insatisfação política. Enunciação que muitos gostariam de ter - o que, inclusive, inspirou o Grupo Porco a, verdadeiramente, “fazer” por meio da música.

Segurando a cabeça decepada do messias.

A primeira faixa do EP, “Segurando a Cabeça”, ganhou um clipe com roteiro, direção e edição assinadas pelo próprio Porquinho e imagens de Poliana Marques (a também artista Polly Terror) e de arquivos online. Entre o lúdico e o trágico, algumas mensagens são transmitidas de forma explícita através das legendas, em contraponto aos riffs e sonoridades instrumentais que constroem a música junto das imagens em preto e branco.

Partindo das limitações impostas pela pandemia e se pautando por elas, Porquinho realizou o registro audiovisual com ajuda da sua companheira Poliana, acreditando que as restrições permitem “uma certa licença para continuar produzindo”.

O futuro vai ser pior?

O Grupo Porco passou por mudanças recentes em sua formação, recebendo Lúcia Vulcano (banda Pata) e Malibu (Jota Quércia) como novos integrantes a assumirem, respectivamente, o baixo e a bateria. Em função das restrições da pandemia, esta formação ainda não teve a chance de se encontrar para elaborar novas composições conjuntamente e se apresentar em palco como time completo.

No entanto, Porquinho explica que este novo EP pode indicar caminhos em relação à sonoridade dos próximos lançamentos da banda, empenhando-se no intuito de criar trabalhos mais “tocáveis” - com menos participações vocais externas e uma estética mais orgânica, sem o uso demasiado de elementos eletrônicos.

“O plano depois deste EP é preparar material pra quando a estrutura puder ser mais banda mesmo. Vou tentar não soltar nada. Quanto à próxima sonoridade eu tenho a expectativa é de ser mais orgânico, mas também mais fora do que foram os discos Feeling da Puta e Procrastinator. Talvez mais punk e mais experimental”, pontua o artista.

Produção e Capa

“Robode” tem produção, mixagem e masterização assinadas pelo próprio Porquinho. A capa ficou a cargo da artista capixaba Emilly Bonna, que carrega em seu currículo produções de histórias em quadrinhos, pinturas e ilustrações, trabalhando com referências de filmes oitentistas de horror trash e elementos gore.

Foto: Emilly Bonna

Selecionamos os melhores fornecedores de BH e região metropolitana para você realizar o seu evento.