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Ailton Krenak realiza, nesta sexta-feira, 19 de abril, palestra homônima sobre o livro “Ideias para adiar o fim do mundo”, no Centro Regional de Referência à Juventude - CRJ, em Belo Horizonte

A palestra é organizada pela Cia Circunstância, companhia circense de BH que este ano completa 20 anos e que vai estrear, em julho, novo espetáculo inspirado no livro de Krenak

Nesta sexta-feira, 19 de abril, das 9h às 11h, acontece, no Centro Regional de Referência à Juventude - CRJ, em Belo Horizonte, uma palestra ministrada pelo pensador, ambientalista, filósofo, poeta e escritor brasileiro da etnia indígena crenaque, Ailton Krenak, sobre sua obra “Ideias para adiar o fim do mundo”. A palestra, organizada pela Cia Circunstância, companhia circense da cidade que este ano completa 20 anos, é a primeira ação do projeto “Carnavália”, que tem como objetivo realizar a montagem de um novo espetáculo de rua inspirado no livro “Ideias para adiar o fim do mundo”.

Com estreia prevista para o mês de julho, o espetáculo da Cia será apresentado em locais públicos e descentralizados de BH, como quilombos e ocupações. O projeto é realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte. Evento gratuito, com interpretação de LIBRAS – Linguagem Brasileira de Sinais e sujeito à lotação. As senhas, limitadas, serão distribuídas uma hora antes da palestra.

A palestra homônima sobre o livro de Ailton krenak e o bate-papo terão como mediadora a líder comunitária indígena Kawany Tamoyos, artista urbana, designer, ilustradora, comunicadora e que trabalha com imagens que subvertem estereótipos sobre o feminino e os povos indígenas, contando histórias decoloniais, inspirando coragem e força. É coordenadora do Todas BR, uma rede latino-americana formada por mulheres e queers artistas urbanas, e integra a NFB Crew, participando de grupos com os quais idealiza e produz projetos e premiações com foco no graffiti feminino.

De acordo com Dagmar Bedê, a palhaça Tityca da Cia Circunstância, desde a primeira vez que os artistas da trupe tiveram contato com o livro do Krenak, ficaram muito tocados com suas palavras e conhecimento ancestral. “É um baque entendermos que já estamos em declínio e que a própria sociedade está fazendo esse fim ficar cada vez mais próximo. É fundamental e urgente olharmos com outros olhos o que os povos originários têm a nos ensinar e entendermos, em coletivo, que natureza é tudo - a pergunta e a resposta para todas as questões”, conta.

Para ela, “nesse mundo às avessas, neste céu que está próximo a desabar sobre nossas cabeças, como diz Davi Kopenawa, é um deleite ouvir sobre os paraquedas coloridos de Krenak. Daí nasceu nosso desejo para a montagem do novo espetáculo. Fomentado pelos estudos de Manu Pessoa, percebemos como essas ideias (para adiar o fim do mundo) dialogam tão intensa e profundamente com a lógica da palhaçaria: mesmo com tudo perdido, ainda há esperança. Não uma esperança tola de que a água mude para o vinho em um passe de mágica e tudo se recomponha com a força do pensamento, mas acredito que podemos deixar a vida mais leve e promover pequenas mudanças cotidianas para que, a cada dia, a realidade seja menos dura e mais colorida. E esse caminho é, também, através da arte e, em especial, do circo”, afirma Tityca.

Ela explica que a proposta do bate-papo com Ailton Krenak é que possamos "beber da fonte" toda essa sabedoria ancestral carregada por Ailton e também pela Kawany. “Abrir os olhos e os ouvidos para aqueles que têm (e sempre tiveram) muito a dizer sobre todos nós. E saber, também, depois de cinco anos de lançamento do livro, o que o imortal Krenak tem para falar nos dias de hoje. Nesta sexta feira, tudo que queremos é sentar, ouvir e agradecer”.

Projeto “Carnavália”, da Cia Circunstância

Em julho, a Cia Circunstância vai estrear um novo espetáculo que integra o projeto “Carnavália” e que tem como referência, em sua dramaturgia, o livro “Ideias para adiar o fim do mundo”, de Ailton Krenak. Ainda em processo de montagem, a proposta do espetáculo é buscar o entendimento do que seria esse fim do mundo para cada um dos artistas envolvidos na peça, incentivando-os a manifestarem suas singularidades, subjetividades, vivências e lutas ao viabilizarem a releitura e o trabalho criativo baseado na obra “Ideias para adiar o fim do mundo”, de Krenak.

Em meio ao caos político, à alta da inflação que escancara a desigualdade social e ao gritante e sofrido pedido de socorro de todo um ecossistema, nasce este projeto que contribui para o desenvolvimento de uma nova narrativa de cosmovisão de mundo a ser apresentado em formato de espetáculo de rua.

Uma nova história, sob óticas curiosas, atentas, conscientes e sensíveis dos artistas que percebem, ou lutam para perceber o ser humano não como sujeito de direito e sim como sendo parte de todo o ecossistema. “Amparados e motivados pela obra de Ailton Krenak, os artistas encontram na subjetividade dos seres envolvidos no processo artístico o embalo para uma nova inspiração, uma ou algumas novas ideias para o adiamento do fim do mundo. Um despertar. O passeio no universo particular dos seres. O encontro no outro. Um manifesto. Um novo espetáculo”, informa Bela Leite, coordenadora de produção do projeto.

Afinal, qual é o papel da arte neste processo de “após-calipse”?, questiona a palhaça Tityca. “Além de suportar a realidade e resistir, os artistas encontram na arte a arte de renascer, de se expressarem e de provocar e instigar todos os envolvidos e o público a pensarem criticamente onde estamos, o que fazemos e para onde estamos indo. A partir desses questionamentos, os artistas da Cia Circunstância propuseram a criação de um espetáculo de ‘fim do mundo’, tendo como premissa a eterna esperança que é parte essencial na arte da palhaçaria”, destaca.

“Carnavália” tem como pilares a multidisciplinaridade artística do circo com inspirações na arte de rua, tendo a comicidade como elo de comunhão entre as mais diversas linguagens como circo, comicidade, palhaçaria, arte de rua, performatividade de gênero (arte drag), mascaramento (comédia dell´art), improviso, teatro físico e de guerrilha e música.

O elenco do espetáculo é composto pelos artistas mineiros Dagmar Bedê e Diogo Dias, da Cia Circunstância, e pelos artistas convidados para a montagem da nova peça Manu Pessoa, Michelle Sá, Rafael Bottaro. O espetáculo conta, ainda, com Ronaldo Aguiar (coreógrafo e diretor de movimento), Rafael Protzner (assessor artístico com foco em improvisação), Rodrigo Negão (direção musical), Idylla Silmarovi (dramaturgia), além da preparação corporal com capoeira de angola de Alcione Oliveira.

Sobre o livro “Ideias para adiar o fim do mundo”, de Ailton Krenak

O livro “Ideias para adiar o fim do mundo”, de Ailton Krenak, um dos mais expressivos pensadores indígenas da atualidade, se divide em três partes, as quais consistem de duas palestras realizadas em Lisboa, nos anos 2017 e 2019, e a adaptação de uma entrevista realizada em Lisboa, em 2017. A obra propõe a discussão sobre a capacidade da humanidade de autodestruição, em vista da exaustão pela exploração excessiva da natureza. O modo de vida dos povos originários é visto como uma alternativa à lógica de exploração. Uma das colocações centrais que atravessa toda a obra vincula-se à dualidade entre a certeza da “ideia de humanidade” versus o questionamento “somos mesmo uma humanidade?”.

Para o autor, a ideia de humanidade foi, e continua sendo, um pretexto utilizado para a justificativa do uso da violência em diversos momentos históricos. O principal argumento do processo civilizatório seria trazer luz à humanidade por meio do encontro e das trocas com a “humanidade esclarecida”. Já na modernidade, a alegoria de um “liquidificador chamado humanidade” é" utilizada para tratar do êxodo rural dos camponeses e habitantes da floresta para as periferias das cidades, para servirem de mão de obra, sendo apartadas de suas identidades em nome do processo civilizatório.

A obra é um sucesso de vendas, talvez pela necessidade que nós temos hoje no Brasil e no mundo de desenvolvermos pensamentos ecológicos, dada a velocidade da constatação de que o planeta Terra está chegando ao fim. É nesse sentido que Ailton explica sua ideia de adiar o fim do mundo, contando novas histórias. A cada nova história contada por Krenak, os humanos refletem um pouco mais e têm a possibilidade de repensar a ambição mercadológica pelo lucro a qualquer preço. A primeira questão colocada no livro é a própria noção do que é ser humano, ou seja, o conceito de humanidade.

Ailton Krenak nos lembra que há somente um pequeno “clube de humanos” que se autoconsideram donos da razão e determinam quem pode e quem não pode entrar no salão de festas. Ele também sustenta a ideia de que a ancestralidade é fundamental para a própria sanidade humana: “Como justificar que somos uma humanidade se mais de 70% da população está totalmente alienada do mínimo exercício de ser? A modernização jogou essa gente do campo e da floresta para viver em favelas e periferias para virar mão de obra em centros urbanos. Essas pessoas foram arrancadas de seus coletivos, de seus lugares de origem, e jogadas nesse “liquidificador chamado humanidade”. Segundo Ailton, “se as pessoas não tiverem vínculos profundos com sua memória ancestral, com as referências que dão sustentação a uma identidade, vão ficar loucas neste mundo maluco que compartilhamos” (KRENAK, 2019, p. 9).

Sobre Ailton Krenak

Ailton Alves Lacerda Krenak nasceu em Itabirinha de Mantena, Minas Gerais, em 1953. Escritor, pesquisador, ambientalista, filósofo, escritor, poeta e líder indígena, suas pesquisas e atuação vão de encontro com a luta dos povos indígenas e questões ambientalistas. É também professor Honoris Causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e pela Universidade de Brasília (UnB).

No dia 5 de abril deste ano, Ailton Krenak tornou-se o primeiro indígena a se tornar 'imortal' da Academia Brasileira de Letras – ABL, ocupando a cadeira número 5, que pertencia ao historiador José Murilo de Carvalho, morto em agosto de 2023. Na eleição para a Academia, realizada em outubro de 2023, ele angariou 23 votos, vencendo a historiadora Mary Del Priore, com 12, e o indígena Daniel Munduruku, que obteve quatro votos. Segundo Ailton Krenak, “a eleição de um indígena para a ABL é um reconhecimento da diversidade cultural e linguística do Brasil, que possui mais de 200 etnias e cerca de 180 idiomas diferentes”.

Autor de livros como "Ideias para adiar o fim do mundo", "A vida não é útil" e "Futuro Ancestral", Krenak fala sobre preservação da cultura indígena, a defesa do meio ambiente e critica o modelo de desenvolvimento capitalista. Reconhecido pelo ativismo a favor dos direitos indígenas e da preservação da Amazônia, fundou o Núcleo de Cultura Indígena e foi co-fundador da Aliança dos Povos da Floresta.

Desde a década de 80, quando liderou os primeiros passos do movimento indígena no país e, principalmente, quando pintou o rosto de tinta preta de jenipapo, durante os debates acirrados da Constituição de 88, sabemos que Ailton Krenak é um porta-voz e personalidade exuberante, contagiante, criativa, pioneira e ligeiramente irônica.

Em 1985, fundou a organização não governamental Núcleo de Cultura Indígena. À época da Assembleia Nacional Constituinte, uma emenda popular assegurou a participação do grupo no processo de elaboração da nova Carta Magna, momento em que Ailton assumiu ativo papel na defesa dos direitos de seu povo. Em 1988, Ailton participou da fundação da União dos Povos Indígenas, organização que tem por objetivo representar os interesses indígenas no cenário nacional. No ano seguinte, participou da Aliança dos Povos da Floresta, movimento que visa o estabelecimento de reservas naturais na Amazônia, onde fosse possível a subsistência econômica através da extração do látex da seringueira, bem como da coleta de outros produtos da floresta. Desde 1998, Krenak dedica-se ao Núcleo de Cultura Indígena, organização que realiza, na região da Serra do Cipó, em Minas Gerais, o “Festival de Dança e Cultura Indígena”, que promove a integração entre as diferentes tribos indígenas brasileiras.

Em 2000, foi o narrador principal do documentário “Índios no Brasil”, produzido pela TV Escola. Dividido em dez partes, o vídeo aborda a identidade, as línguas, os costumes, as tradições, a colonização e o contato com o branco, a briga pela terra, a integração com a natureza e os direitos conquistados pelos indígenas até fins do século XX. No ano de 2014, foi um dos palestrantes do seminário internacional “Os Mil Nomes de Gaia”, no Rio de Janeiro, sob organização de Eduardo Viveiros de Castro, antropólogo do Museu Nacional, e Deborah Danowski, filósofa da PUC-Rio. Em abril de 2015, durante a Mobilização Nacional Indígena, convocada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – Apib, foi lançado um livro da coleção Encontros, da Azougue Editorial, que reúne diversas entrevistas concedidas por Ailton Krenak, entre 1984 e 2013. Os textos foram organizados pelo editor Sérgio Cohn e contam com apresentação de Viveiros de Castro.

Em 2016, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) concedeu a Ailton Krenak o título de Professor Doutor Honoris Causa, um reconhecimento pela sua importância na luta pelos direitos dos povos indígenas e pelas causas ambientais no país. Nesta mesma universidade, Krenak leciona as disciplinas “Cultura e História dos Povos Indígenas” e “Artes e Ofícios dos Saberes Tradicionais”, ambos em cursos de especialização. Em 2018, foi um dos protagonistas de uma série na Netflix chamada “Guerras do Brasil”, que relata com detalhes a formação do Brasil ao longo de séculos de conflito armado, começando com os primeiros colonizadores até a violência na atualidade.

Em 2020, conquistou o Prêmio Juca Pato de Intelectual do Ano, concedido pela União Brasileira dos Escritores (UBE). Em dezembro de 2021, a Universidade de Brasília concedeu a ele o título de Professor Doutor Honoris Causa. O autor tem vários livros publicados e sua obra está traduzida para cerca de 19 países. Atualmente, Ailton vive na Reserva Indígena Krenak, no município de Resplendor, em Minas Gerais.

SERVIÇO: Palestra homônima sobre o livro “Ideias para adiar o fim do mundo”, de Ailton Krenak, organizada pela Cia Circunstância, de BH.
Data: 19 de abril
Horário: das 9h às 11h
Local: Centro Regional de Referência à Juventude – CRJ, situado à Rua Guaicurus, 50 - Centro, Belo Horizonte
Mediação: Kawany Tamoyos
*Evento gratuito e sujeito à lotação. A palestra conta com tradução em LIBRAS.
*As senhas, limitadas, serão distribuídas uma hora antes da palestra.

Foto: gessimar medeiros

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