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PQNA Galeria recebe BORDA!, um olhar sobre a tradição do bordado e a contemporaneidade

A subjetividade dos indivíduos, das relações humanas, a violência e a delicadeza estarão em destaque na exposição Borda!, que a Fundação Clóvis Salgado inaugura na PQNA Galeria. Por meio dos trabalhos de Domingos Mazzilli, Juçara Costa e Rodrigo Mogiz, a exposição evidencia as potencialidades da técnica do bordado, marcando o diálogo entre a tradição e a contemporaneidade. Os artistas usam linha e agulha para alinhavar diferentes narrativas e instigar reflexões que passam pela dor, homossexualidade, apagamento feminino e as construções sociais de gênero. Em comum, as obras têm a utilização do bordado livre, sobre diferentes superfícies como fotos e tecidos.  A curadoria é de Augusto Nunes-Filho.

Bordar a carne e o mundo – A dor e o feminino dão o tom ao trabalho de Mazzilli, que já expôs no Palácio das Artes como integrante do programa ArteMinas, a convite da FCS. Na ocasião, com a exposição Carne Viva, ele utilizou o que chama de Bordado Expandido – o bordado realizado em suportes não convencionais e em diferentes objetos de madeiras, metais e carnes. Segundo o artista, as obras expostas em Borda seguem a mesma técnica e temática. “Bordar é algo agressivo, você atravessa um furo, uma superfície com linha e agulha.  Isso te permite bordar qualquer coisa, da carne ao mundo”, diz.

Em seis impressões fine art em canvas, de fotografias feitas entre os anos 1930 a 1960 – cinco de sua própria família, o artista utiliza a técnica do bordado com sanguíneas pérolas para realizar intervenções no olhar das figuras, criando seu ‘ensaio sobre a cegueira’. Assim, estas fotografias bordadas subvertem a imagem ao promover o apagamento da identidade do retratado, ao evocar tempo, dor e memória, neste que é seu trabalho mais autobiográfico. Traz certa repulsa, ao transformar delicadas pérolas em doenças de pele e colônias de bactérias, herança da sua passagem pela medicina. Ao mesmo tempo, o artista propõe um diálogo com as joias e pérolas bordadas nos vestidos das mulheres, criando um deslocamento.

A relação do artista com o feminino e com o bordado remonta à infância. Mazzilli tem sete irmãos, cinco mulheres. Além disso, sua família era dona de uma loja de tecidos em Muzambinho. “Essas questões ligadas ao feminino vêm da minha mãe, irmãs e, depois, da psiquiatria. Eu atendia muitas mulheres no consultório; ouvia suas queixas e conheci este outro universo, os ‘escaninhos’ da alma feminina. Ainda estou ressignificando todo este material ”, revela.

Domingos Mazzilli nasceu em Muzambinho, MG, em 1963. Formado em Medicina pela UFMG com especialização em Psiquiatria e História da Arte, pela PUC, cursou Artes Visuais na EBA – UFMG e Artes Plásticas na Escola Guignard, UEMG, sem, no entanto, concluir os cursos. Tem criado uma obra instigante como artista plástico a partir de 2007, então com 43 anos, quando abandona a medicina. Artista multimídia, transita por vários suportes: faz objetos e assemblages, borda lingeries antigas, objetos de cozinha e carne além de criar vídeos, instalações e fotoperformances. Seus temas recorrentes são a memória, o feminino, o doméstico, a dor e o íntimo. Seu alter ego é Susan O. Campo, uma curadora de arte. Fez 16 exposições individuais tendo exposto no Palácio das Artes, Sesc Pompéia, Chapel Art, Casa da Xiclet, Casa dos Contos dentre outros espaços. Reside no distrito de Macacos, Nova Lima, próximo a Belo Horizonte.

 

 

Descaminhos do bordado – Juçara Costa expõe um painel floral, resultado do método que chama de Desenho Bordado. Sem qualquer traço prévio no tecido, a artista começa a desenvolver a técnica do bordado livre. “O meu trabalho é baseado no descaminho, na possibilidade de experimentar. Eu vou desenhando enquanto vou criando, não tem nó e não tem avesso, nem o objetivo de fazer algo perfeito”, explica Juçara que também é atriz e dá cursos sobre o Desenho Bordado. “O desenho bordado é cheio de regras desregradas. Se você acha que errou um ponto você tem que pegar aquele ponto e transformar ele em algo novo. A ideia é ser criativo a partir dessas situações”. A obra que trará para a PQNA Galeria ainda está em construção. “Tenho virado as noites trabalhando nesse bordado, mas a ideia é criar uma peça inacabada que, inclusive, terá uma linha solta”, diz a artista.

Para Juçara, o uso do bordado na arte contemporânea é uma escolha interessante por trazer a memória ancestral do feminino, da dor, da mulher. “Durante muito tempo, o bordado era a única expressão artística permitida para as mulheres. Mesmo assim, com regras muito rígidas, que exigiam a perfeição. Hoje, com o bordado, eu busco romper essa tradição e procuro trabalhar o descaminho”, resume Juçara, que entende o momento de bordar como um exercício de meditação e de completa oração.

Juçara Costa nasceu em Belo Horizonte. Pintora, ilustradora, figurinista e cenógrafa. Estudou desenho na Universidade de Commack, Nova York. Premiada no Salão do Carnaval de Montes Claros, MG (1985); Salão da Cultura, Montes Claros (1985); Salão de Arte Mística de Governador Valadares, MG (1991) e Salão da Marinha, Brasília (1991). Participou do XIII SNAPBH, MAP (1982); Salão de Artes, Palácio das Artes, BH (1985); IV Salão Sergipano de Artes Plásticas (1988); Salão de Arte da Usiminas, Ipatinga, MG (1989); Salão de Arte de Pernambuco, Recife (1989); Salão de Arte Nello Nuno (1989). Participou das seguintes coletivas: Galeria Esthergilda, BH (1972); AAPMG, BH (1979); Di Artisti Brasiliani Citta Di Roma, Galerias La Bitta e Casina Sportiva, Roma, (1990); Utopias Contemporâneas, Palácio das Artes (1992). Fez as seguintes individuais: Galeria Eurico de Castro, BH (1977); Residência de Jessica Roye, Houston, EUA (1982); Kuarup Espaço de Arte, BH (1982); Casa dos Contos, BH (1990); MTC II, BH (1990); PIC, BH (1993). Ilustrou cartazes, programas de peças, livros e revistas e produziu cenários e figurinos para diversas peças teatrais. Recentemente apresentou três exposições individuais: Pernas Cansadas de decifrar estrelas, por isso preciso inventar escadas, no Centro Cultural de Muriaé, Oroboro, na Galeria Valourec, e Fragmentos, no Museu Inimá de Paula.

Bordar o corpo e tatuar o tecido – Em suas obras, Rodrigo Mogiz provoca reflexões sobre questões afetivas e sexuais. Na exposição Borda!, o público encontrará bordados de figuras retiradas de páginas de revistas, personalidades midiáticas ou de mitos e contos de fadas, feitos em tecido. Mogiz se aproximou do bordado de forma natural. “Tem uma questão forte com a linha. O desenho se faz com a linha, e a matéria que faz o bordado também é constituída de linha. O bordado é quase como se fosse a linha do desenho materializada, saltando para fora”, explica o artista.

Três desses trabalhos pertencem à série A Sua Superfície, em que Rodrigo aproxima o bordado da tatuagem. O artista associa a dor de tatuar o corpo à violência de bordar o tecido. São obras que, assim como as tatuagens nos corpos humanos, contam histórias de amor, incertezas, violência ou sexualidade. Em seus trabalhos, além da linha, Rodrigo faz o uso de materiais como miçangas, contas e alfinetes.

Em comum, as obras de Rodrigo abordam a questão homoafetiva a partir de uma técnica que é muito ligada ao universo feminino. “Essa discussão, dessa aparente contradição, de falar do masculino a partir de algo que é percebido como feminino, acabou fazendo parte do trabalho, mas não era uma questão inicial. Hoje é muito importante”, diz.

Rodrigo Mogiz nasceu em Belo Horizonte. É graduado em Artes pela Escola de Belas Artes da UFMG, com habilitação em pintura e desenho. Tem um trabalho como artista-plástico já bem consolidado, expondo em galerias institucionais e comerciais de Belo Horizonte e também de outras cidades e estados, participando de exposições coletivas e individuais em São Paulo, Recife, Fortaleza, Goiás, Paraíba, Pará e até em países como Portugal e Argentina. Já foi premiado em um Salão de Arte da cidade de Cataguases-MG e foi selecionado para um dos prêmios de arte mais importantes do país, que é o Prêmio CNI-SESI Marcantonio Vilaça na edição de 2009/2010. Dentre suas últimas exposições destaca-se a individual Seres Significantes, na Galeria Gabinete de Arte k20, em Brasilia, entre novembro de 2016 e março de 2017; a coletiva Almofadinhas, na Galeria GTO do Sesc Palladium, em fevereiro e março de 2017, com curadoria de Ricardo Resende, e a coletiva, ainda em cartaz, Aquilo que nos Une, na Caixa Cultural São Paulo, sob a curadoria de Isabel Portella. Mogiz ainda trabalha com oficinas e projetos sociais abordando a questão da tradição na arte, no artesanal e no design, para uma discussão acerca da sustentabilidade.

Foto: Divulgação

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