Notícias

Dia das mães: patriacarlismo e feminismo

Segundo domingo de Maio, como sempre, aqui no Brasil, comemora-se o Dia das Mães. Data que teve seu início nos E.U.A. para homenagear Ann Jarvis. O falecimento dela, em 9 de maio de 1905, afetou bastante a sua filha, Anna Jarvis. Anos depois, ela decidiu criar uma data comemorativa para homenagear a sua mãe. O trabalho de Anna Jarvis fez com que um memorial em homenagem a ela fosse realizado em maio de 1908 — esse foi o primeiro Dia das Mães.

Aqui no Brasil, a data se oficializou na década de 1930, quando o presidente Getúlio Vargas emitiu o Decreto nº 21.366, em 5 de maio de 1932. Por meio desse documento, determinou-se o segundo domingo de maio como momento para comemorar os “sentimentos e virtudes” do amor materno.

Hoje a data é a segunda maior a movimentar a economia do comércio, perdendo apenas para o Natal. Como de costume, a maioria das pessoas partem do consumo como provas de amor,  bem típico de uma sociedade norteada pelo capitalismo. Contudo nossa reflexão não será envolto ao consumismo, mas trataremos dos “sentimentos e virtudes” do amor materno, e é claro dos direitos da mulher.

Primeiramente, observamos que a “sacralização da mãe” e a “romantização da gravidez”, são imposições culturais, normalmente regidas por uma cultura patriarcal que tende a se manter homogênea nas ideias referentes a sentimentos e virtudes criadas por homens, mas que devem ser cumpridas pela mulher. Também é de suma importância revermos a história da criação das instituições familiares, a ideia de propriedade entre outros conceitos que foram organizados com finalidades específicas para a “ordem social” criadas pelo poder masculino. Poder estritamente  político de conquista e manutenção desse poder.

Segundo, devemos compreender a trajetória do “conceito mulher” na sociedade Ocidendal. Percebe-se que desde os Antigos Gregos, passando pela Idade Média até a construção da Modernidade, a mulher não aparece como protagonista de sua própria estória, e sim, como uma personagem que passivamente cuida, sela dos “heróis” que desbravam o mundo criando suas “verdades” a sua maneira com um discurso masculino de conquistas e  transformações.

Vários filósofos no decorrer da História negam à mulher sua capacidade intelectual, inferiorizando-a a partir de suas concepções masculinas, elevando a potência racional do homem. A escritora e ativista política francesa Simone de Beauvoir já nos alerta do perigo de conceitualização de “mulher” em sua frase: “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher”, desconstruindo um conceito já dado pela Cultura. A mulher se faz, ela mesma se constrói a partir de suas escolhas livres. Não se constroem singularidades a partir de imposições.

Outra perspectiva que não pode se ausentar dessa análise, é a busca atual de grupos feministas que visam desconstruir os conceitos que a sociedade impõe às mulheres, além das citadas acima temos a fragilidade, as emoções, a força e até mesmo as próprias condições biológicas do corpo feminino.

Corpos que sofrem múltiplas violências, que perdem sua presença e liberdade diante das leis que ainda perpetuam o controle e manutenção dos mesmos. A questão do direito a reprodução por exemplo, ou o aborto, são temas muito atuais nessa luta pela desconstrução da autoridade baseada no masculino. Uma sociedade com participação de mulheres na sua organização, mas ainda atrelada a valores criados historicamente pelos homens.

Percebe-se que há uma deturpação interpretativa acerca do feminismo, às vezes colocando-o como uma barbárie que deseja acabar com as virtudes da família, que irá destruir a representação “sagrada da mulher” ligada à maternidade. Uma representação não construída pela mulher, já que lhe foi negada tal criação na Cultura Ocidental, bastando-lhes a introjetar e replicar valores culturais que perpetuam papéis submissos e objetificados para as mulheres na sociedade. Observando que há feminismos. Os movimentos não se resumem somente em torno da mesma expectativa.

Retomando a data comemorativa do dias das mães, essa reflexão não quer de forma alguma desprestigiar esse tipo de amor, pois o que está em questão não é ser ou não ser mãe, mas sim, se o cuidado e o amor estão sendo vivenciados pelos autores envolvidos. Se nesse envolvimento de múltiplas partes existe a garantia de dignidade, educação, alimentação, saúde, proteção, respeito e liberdade. Virtudes não só de mães, mas do que se espera de uma sociedade. Lembrando que a escolha de ser mãe é estritamente uma escolha da mulher  e que nenhuma outra força, a não ser a dela, pode impelir essa situação.

“Mulher não tem que nada, se não quiser. Isso vale para ser “amável” ou falar palavrão, fazer sexo ou não fazer, depilar-se ou não se depilar, usar cabelo grande ou curto, “encontrar um homem” ou ficar solteira, sair com vários caras ou preferir mulheres, ter filhos ou não ter, gostar de maquiagem ou não (e por aí vai, em todas as regras).” (VALEK, Aline. Escritório feminista. Carta Capital. Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br> (adaptado).                                          

Por Neimar de Oliveira

Para conferir outras matérias de Neimar de Loveira, acesse o link abaixo:

https://libertasnews.com.br/category/colunas/vida-e-filosofia-neimar-oliveira/

Foto: Divulgação

Selecionamos os melhores fornecedores de BH e região metropolitana para você realizar o seu evento.