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Protagonismo LGBTQ é tema da mostra CORPO POLÍTICO, no Cine Humberto Mauro

1º a 29 de junho

Filmes que marcaram a trajetória de representação e luta LGBTQ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros e Queers) integram aMostra Corpo Político, que será exibida no Cine Humberto Mauro, com curadoria de Bruno Hilário e colaboração de Mariah Soares e Vitor Miranda. Estarão em evidência obras dos anos 70 até os anos 2010 em que os personagens LGBTQ se tornam protagonistas, no sentido em que são reconhecidos como indivíduos cidadãos, com suas complexidades respeitadas.

A representação do personagem não normativo no cinema remonta à origem da sétima arte. Desde os anos 20 é possível identificar, mesmo que não oficialmente, personagens cujos comportamentos e trejeitos poderiam ser identificados como homossexuais, travestis, transexuais e queers. Por vezes cômicos, por vezes deprimidos, a estes personagens geralmente era reservado um final trágico.

Foi somente na década de 60 que personagens homossexuais passaram a ser nomeados com tais. O movimento de ressignificação da figura não-heterossexual se solidifica nos anos de 1970, quando uma geração de cineastas independentes consegue inserir discussões mais complexas acerca do universo LGBTQ – questões de identidade, sexualidade e afetividade, por exemplo – em suas produções.

Segundo o coordenador do Cine Humberto Mauro, Bruno Hilário, as exibições não são voltadas necessariamente para o público do qual a mostra busca tratar. “Os filmes pressupõem um diálogo com o grande público para colaborar na formação de novas posturas, visões e ressignificações do corpo humano”, destaca. Ainda de acordo com Bruno Hilário, a mostra recebeu o nome de Corpo Político porque aceitar-se e afirmar-se como homossexual, é uma atitude política. “É preciso ter atitude para evidenciar esse corpo que, muitas vezes, está em uma situação de invisibilidade”, avalia.

O clássico francês Johan (1976), de Philippe Vallois, serviu de inspiração para o nome da mostra. O cineasta, ao buscar construir e retratar práticas homossexuais “invisíveis” aos olhos da sociedade, mostra manifestações sexuais de um corpo que não é aceito por todos.

Destaques na programação- Corpo Político traz ainda produções como Pink Flamingos (1972), de John Waters, e The Rocky Horror Picture Show (1975), de Jim Sharman, que tratam de dramas e comédias protagonizados por personagens travestis.

O fenômeno Priscilla - A Rainha do Deserto (1994), dirigido pelo australiano Stephan Elliott, também será exibido. A obra conseguiu, pela primeira vez, alçar a vida de drag queens a uma audiência mais ampla no percurso do cinema. Barbara Hammer, diretora pioneira do cinema queer, também marca presença. Suas produções Dyketactics (1973) e Nitrate Kisses (1992), traçam panoramas do mundo homossexual feminino e tratam o erotismo como uma perspectiva que não se restringe ao voyeurismo.

Outro destaque é Born In Flames (1983), uma ficção científica documental dirigida pela norte americana Lizzie Borden, que será exibido pela primeira vez em Belo Horizonte. O longa trata de classicismo, racismo, sexismo e as dificuldades enfrentadas por mulheres subjugadas em meio a uma sociedade heteronormativa.

Entre os filmes nacionais exibidos na Mostra, Madame Satã (2002), de Karim Ainouz, retrata o cotidiano de um artista transformista que convive com o universo do crime e da prostituição, mas sonha se transformar em uma grande estrela. Já a produção recente Los Leones(2016), de André Lages, trata da intimidade de uma travesti e seu companheiro.

Breve Panorama – Insinuações de temática homossexual já eram encontradas em produções de Charles Chaplin (como no curtaBehind The Screen, de 1916). Nos primeiros anos do cinema essas representações caíam em um lugar-comum: ou o personagem possuía trejeitos considerados femininos ou se vestia como uma mulher, fomentando um rótulo cômico.

A liberdade de produção cinematográfica dos EUA foi cerceada pelo Código de Hays (1934) que, em parceria com a Igreja Católica, estabeleceu regras da moral e do bom costume que deveriam ser aplicadas nos filmes. As restrições do código surtiram o efeito nas representações dos personagens LGBTQ, que passaram a ser ainda mais veladas, dúbias e construídas a partir de metáforas. Dois tipos de papéis passaram a fazer parte da dramatização: o antagonista maléfico e a figura trágica. Isso pode ser visto na trama de Alfred Hitchcock, Festim Diabólico (1948), e em Juventude Transviada (1955), de Nicholas Ray.

Encabeçada pelo cinema europeu, a mudança dos estereótipos tomou forma no início da década de 1960, quando a temática homossexual foi deixando, aos poucos, de ser um segredo. Tramas mais complexas - que abordam os dilemas do ser humano fora de sua representação exclusiva de gênero ou sexualidade - se instauram de forma mais efetiva. “A morte passa a ser um final possível, mas não o único destino no qual o personagem é submetido”, conta Bruno Hilário.

HISTÓRIA PERMANENTE DO CINEMA – Paralelamente à Mostra Corpo Político, o Cine Humberto Mauro dá continuidade ao projetoHistória Permanente do Cinema. Nesse período, o projeto vai dialogar com a temática LGBTQ. Estão programados os filmes Infâmia(1961), de William Wyler, Os Rapazes da Banda (1970), de  William Friedkin, e Fazendo Amor (1982), de Arthur Hiller. As sessões de todos os filmes serão comentadas, visando discutir diferentes momentos da representação do corpo LGBTQ na trajetória do cinema.

BATALHA DRAG DE LIPSYNC – Ainda durante a Mostra Corpo Político, será realizada, no dia 14 de junho, às 21h30, a Batalha de Lip Sync, uma competição de dublagem. O evento acontece após exibição simultânea, no Cine Humberto Mauro e Jardim Interno, dos filmesPink Flamingos e Wigstock.

As pessoas interessadas em participar da disputa, devem enviar um vídeo para [email protected] até o dia 31 de maio. O resultado será divulgado até o dia 5 de junho. Serão oferecidas 20 vagas, sendo obrigatório estar montada/montado para a apresentação.

Com estrutura parecida a do programa estadunidense RuPaul's Drag Race, a batalha de Lip Sync terá apresentação da drag Roque Horror, do coletivo Montarya. As competidoras, que irão dublar obras pré-selecionadas pela gerência do Cine Humberto Mauro, serão avaliadas pelo Júri Especial, formado por Ed Marte, Gabriela Dominguez (Coletivo Montarya), Guilherme Morais (Miss Dengue), Vinícius Abdala e Xisto Lopes (College Queens).

O evento conta ainda com performances do Coletivo Montarya e apresentação da drag Nickary Aycker.

Foto: Divulgação

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