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19º forumdoc.bh

Festival é gratuito e se realiza de 19 a 29 de novembro; toda a programação pode ser conferida no forumdoc.org.br

A capital mineira acolhe, de 19 a 29 de novembro, a 19ª edição do forumdoc.bh. O Festival do Filme Documentário e Etnográfico. Seguindo as premissas de engajamento social, político e pela diversidade cultural dos povos, por meio de filmes que interessam também por sua forma e recursos estéticos o festival exibe curtas, médias e longas-metragens que destaquem essas ideias. As sessões são gratuitas e ocorrem no Cine Humberto Mauro, Cine 104 e no Campus Pampulha da UFMG, além do Circuito forumdoc.bh, nas Ocupações Esperança, Eliana Silva e Morro do Cascalho. Destaque para o Encontro de Realizadores Indígenas com presença de mais de 30 convidados de vários países das Américas e diversas etnias. Realizado pelo coletivo Filmes de Quintal, o festival tem patrocínio do Itaú, Fundo Municipal de Cultura e Secretaria de Cultura do Estado de Minas Gerais.

 

Nesta edição, o forumdoc.bh deixa para trás o caráter competitivo nas Mostras Contemporâneas Brasileira e Internacional e não escolherá o “melhor filme”. Em vez disso, a proposta é destacar cada obra participante das 16 sessões apresentadas nesta edição nestas duas mostras que se propõem a mapear a produção recente (dois últimos anos de documentários e filmes realizados em suas fronteiras). Para isso, um conjunto de críticos foi convidado a dedicar uma resenha para cada obra. Como destacado pela organização do festival em sua apresentação: “publicar os ensaios inéditos apresenta-se também como maneira de contribuir para o pensamento gerado por essas obras que acabam de nascer”. Filmes destacados nos mais importantes festivais de documentários do mundo serão apresentados pela primeira vez no Brasil no âmbito dessa mostra.

 

De acordo com Júnia Torres, que integra a coordenação do festival, essa 19ª edição do forumdoc.bh prova uma consolidação de público na capital. “Essa continuidade permitiu a formação de um público com uma sensibilidade crescente para as obras apresentadas pelo forumdoc, para um cinema pouco difundido, não comercial e, muitas vezes, com acesso restrito em salas convencionais, um cinema fora do espetáculo”.

 

Júnia também destaca a mudança no olhar do público referente à própria concepção de documentário. “No início, quando se falava em documentário, as pessoas imaginavam um tipo de filme pedagógico, didático. Essa concepção muda e os espectadores conseguem perceber que o cinema documentário e a cinematografia de filmes que fazem fronteira com o documental (como é o caso de parte das obras do festival) pode trazer obras interessantes, com ritmo, narrativas, experimentações, novos encontros e inovações formais. Além disso a reflexão por meio desse modo de expressão nos inquirem sobre o mundo complexo, desigual e catastrófico no qual vivemos, mas mundo que permite que uma polifonia maior de vozes que também devem ser ouvidas. O documentário está no centro dessas questões. Nos interessam filmes que se dispõem a refletir e agir sobre o mundo”.

 

Também ocorrerão durante o forumdoc.bh os lançamentos das publicações “Imagens e Exílio – Cinema e arte na América Latina”, Yanet Aguillera (org.), e “Piseagrama, n.8, Extinção”, ed. Piseagrama, espaço público periódico. Os lançamentos serão no dia 27, às 19 horas, no Cine 104. Além destas, destacamos a presença de Davi Kopenawa para o Encontro de Realizadores Indígenas e para lançar seu livro A Queda do Céu. Davi é o xamã e liderança indígena mais importante no Brasil hoje e sua publicação nos traz um alerta sobre os perigos do mundo da mercadoria, do ouro e do minério canibais: profético!

 

Olhar: um ato de resistência

Além de uma mostra, uma reunião entre realizadores (cineastas) de diferentes nações, Olhar: um ato de resistência traz representantes de povos indígenas que resistem a um genocídio histórico (seja cultural ou pela explícita tentativa de extermínio que vivenciamos hoje) na América e no Brasil. Diversas etnias se encontrarão e ocuparão os espaços do festival.

 

Essa ocupação é o grande destaque da programação de 2015, que começa já na sessão de abertura do festival, que ocorre no Cine Humberto Mauro, no dia 19, às 19h30. A sessão contará com a presença de Arlene Bowman, realizadora indígena Navajo dos EUA. A realizadora comentará duas das obras que dirigiu: Navajo Talking Picture (1986) e The Graffiti (2008). Atualmente artista e ativista conhecida por seu trabalho com vídeo e autrorrepresentação, tem obras em importantes museus do mundo. Nascida em uma reserva Navajo, no Arizona, Arlene foi levada desde jovem para uma grande cidade americana. Retorna para realizar o filme com sua avó, documentário que será mostrado e discutido nessa sessão de abertura, pela diretora e por Andrea Tonacci, curador da mostra.

 

Para Júnia Torres, o destaque da mostra é o Encontro de Realizadores Indígenas, no qual representantes de diversas etnias se encontrarão para trocar versões de suas próprias histórias e experiências. “O encontro entre essas pessoas, realizadores e lideranças indígenas nos ajudam a politizar as questões que são relevantes. Não estamos trazendo apenas filmes, mas, presentificando o que esses realizadores querem dizer, quais questões querem expressar, promovendo sua interação, intercâmbio, procuramos ser instância para novas conexões entre as diversas linguagens hoje acessadas pelos diversos grupos indígenas. A mostra pretende discutir sobre processos comuns e refletir sobre uma identidade continental dos povos indígenas, que ainda resistem ao genocídio europeu e à ideia de progresso da sociedade capitalista”

 

A mostra é idealizada por Andrea Tonacci, um dos principais diretores brasileiros. Também será exibido durante o festival parte do Acervo Tonacci/Encontros na América indígena, comentado por ele.

 

O grande encontro ainda promove duas mesas de debate sobre a questão indígena, pelos próprios povos protagonistas que participarão do forumdoc.bh, no Cine 104. A primeira trata das “Perspectivas indígenas do cinema e suas resistências”, no dia 23, às 9h30. Já no dia 27, às 9h30, serão debatidas as “Perspectivas atuais para existência dos mundos e dos cinemas indígenas”, com a presença da Secretária de Ações para a Diversidade Cultural do MinC, Ivana Bentes.

 

 

Olney São Paulo

Neste ano, o forumdoc.bh também volta seu olhar mais uma vez para um importante autor na cinematografia clássica brasileira ainda pouco conhecido entre nós, destacamos nessa edição a obra do cineasta, escritor e ensaísta Olney São Paulo. O cineasta faz parte da gênese do cinema novo brasileiro, da mesma geração de realizadores baianos como Glauber Rocha, Roberto Pires, Luiz Paulino e Trigueirinho Neto. Apesar de pouco conhecido pelo público, o cineasta foi de grande importância para o desenvolvimento do cinema nacional.

 

Júnia Torres, que integra a organização do festival destaca a relação do cineasta com a própria história política nacional. “A grande obra de Olney São Paulo, “Manhã Cinzenta”, traz uma discussão sobre a ditadura, e nos chama à memória de um passado tão recente, que parece ter sido esquecida. Essa relação entre Estado e violência, que vitimou muitos, naquela época, incluindo o próprio Olney, ainda persiste e pode ser observada em outras obras que compõem o festival, como no filme Orestes, de Rodrigo Siqueira.”

 

Apesar de não ser integral (por problemas de preservação de cópias), a mostra Olney São Paulo é inédita e contará com um debate conduzido pelos pesquisadores Hernani Heffner e Ewerton Belico, no dia 26, às 21 horas, no Cine Humberto Mauro. Antes, no dia 20, às 19 horas, a grande obra do cineasta “Manhã Cinzenta” (1968/69) será comentada por Rodrigo Siqueira, que em seu filme Orestes (2015) traça continuidades entre passado e presente nas ditas sociedades contemporâneas.

 

Circuito forumdoc.ufmg

Uma semana antes, entre os dias 9 e 14 de novembro são realizadas mostras que integram o Circuito forumdoc nas ocupações Esperança e Eliana Silva. De acordo com Luisa Lana, uma das organizadoras do Circuito, a ideia é descentralizar o festival. “Levamos alguns filmes que não são do festival, mas filmes curados pelo forumdoc.ufmg, por toda a rede que compõe o circuito, é um conjunto de ações, que integram o festival como forma de descentralização, organizada por uma rede de pessoas interessadas em fazer realizações no meio audiovisual nessas comunidades, durante o mês da consciência negra”.

O circuito culminou em oficinas de realização audiovisual que está sendo oferecida às crianças que frequentam o Centro de Educação e Cultura Flor do Cascalho. Nos dias 28 e 29 de novembro, a partir das 20 horas, ocorre a exibição dos vídeos produzidos durante a oficina no Sesc Palladium. O Circuito é organizado pelo forumdoc.ufmg, Filmes de Quintal, Centro de Educação e Cultura Flor do Cascalho, Mostra Raízes e representantes das ocupações Eliana Silva e Esperança.

 

Sessões especiais

A Estrangeira: estreia do filme dirigido por Rodrigo Moura (curador de Inhotim), com a fotógrafa Cláudia Andujar, nascida na Suíca e naturalizada brasileira, que inaugura o novo pavilhão de Inhotim dois dias antes da sessão. O destaque da obra de Cláudia é seu trabalho por mais de 40 anos como artista e ativista entre os Yanomami. 

Remanescentes, França, 2015, direção Raphaël Grisey, documentário realizado em diferentes quilombos em Minas Gerais.

Tança, Brasil, 2015, realização: Irmandade dos Atores da Pândega e Associação Quilombola Mato do Tição. Tança, africana escravizada na região da Serra do Cipó, Minas Gerais, é  a matriarca ancestral do Quilombo do Matição, que teria vivido cerca de 130 anos.

 

Foto: Divulgação 

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