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Exposições do Edital de Ocupação de Fotografia da FCS repensam a noção de espaço urbano e questionam a história da arte fotográfica

Em sua 3ª edição consecutiva, edital contempla obras de Letícia Lampert, que expõe individualmente pela primeira vez fora de Porto Alegre; e de Daniel Oliveira, em sua primeira individual

O Edital de Ocupação de Fotografia da Fundação Clóvis Salgado chega àterceira edição consecutiva em 2018 reunindo os projetos da gaúcha Letícia Lampert (Práticas para destrinchar a cidade) e do mineiro Daniel Oliveira(História para fantasmas). Os trabalhos estarão em exposição na CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais e revelam o olhar dos artistas para as diferentes manifestações que moldam os espaços e práticas urbanas.

O gesto lúdico de desmontar um mecanismo complexo para analisar suas partes, como quem quer entender como ele funciona, é a origem dos diferentes trabalhos reunidos na mostra Práticas para destrinchar a cidade – primeira exposição individual da artista Letícia Lampert fora de sua cidade natal, Porto Alegre.

Em História para fantasmas, Daniel Oliveira parte de narrativas experimentais, sem palavras e sugeridas pelas imagens encontradas. O artista explora temas como a tradição, a herança, o moralismo, a sexualidade, o luto e a memória, misturando fotografias autorais com outras encontradas em feiras de antiguidade.

Os artistas selecionados contam com apoio da FCS para publicação de catálogo e material educativo, assessoria de imprensa e ajuda de custo para a produção das exposições. Na edição de 2017, o Edital contemplou o trabalho dos fotógrafos mineiros Pedro Valentim e Tiago Aguiar, com as exposiçõesDuelo de MCs - Uma década ocupando as ruas e Du Rusá e Lá Du Rusá, respectivamente.

Foram convidados para a seleção dos trabalhos a Professora Doutora do Programa de Pós-Graduação e da Graduação em Artes Visuais (IA-Unicamp) e Diretora do Museu de Artes Visuais MAV – Unicamp, Sylvia Furegatti, o jornalista independente, curador e escritor, Walter Sebastião, e a Produtora, Pesquisadora em Artes Visuais e Gerente de Artes Visuais da Fundação Clóvis Salgado, Uiara Azevedo.

A publicação de um edital exclusivo para a fotografia é mais uma diretriz de valorização da arte fotográfica promovida pela Fundação Clóvis Salgado. Em junho de 2015, a FCS passou a dedicar a CâmeraSete, espaço localizado no hipercentro de Belo Horizonte, à fotografia. A adequação veio atender a uma necessidade do Estado, com o estabelecimento de um espaço referencial para ações de debates e reflexões sobre esta linguagem artística.

SOBRE AS EXPOSIÇÕES

PRÁTICAS PARA DESTRINCHAR A CIDADE

Leticia Lampert

Utilizando da ideia de uma cidade genérica, sem uma paisagem marcante, a fotógrafa explora a falta de perspectiva dos edifícios, a proximidade sufocante entre prédios e a impossibilidade de ver o horizonte ou resquícios naturais do ambiente – características comuns a muitos centros urbanos que passaram por períodos de crescimento acelerado e, geralmente, sem planejamento.

Composta por quatro séries, a exposição busca apreender a paisagem urbana, cada vez mais natural para quem vive nas grandes cidades. Segundo Letícia, na série Topografia do Horizonte (políptico formado por cerca de 60 imagens), “o céu é reduzido a pequenas formas geométricas quando recortado de fotografias tiradas em áreas centrais, ganhando formato abstrato, como se tratasse de pequenos pedaços espalhados pela cidade”. Já em Topiaria Urbana, a artista explora o pouco de verde que ainda resta na paisagem urbana e que perde suas formas naturalmente orgânicas para ganhar limites retos e definidos através das construções a sua volta.

Na instalação fotográfica Estudos para organizar a paisagem, as imagens impressas em grande formato são recortadas e remontadas diretamente na parede. “Brinco com a falta de sentido deste emaranhado de concreto e tento trazer a magnitude da escala urbana para o espaço expositivo”, explica a artista. Por fim, a série Como Destrinchar a paisagem apresenta duas vistas urbanas desmontadas nos seus elementos mais mínimos, trazendo, de forma literal, o conceito que norteia toda a pesquisa de Letícia.

“Gosto de estar em diferentes cidades e notar como a minha percepção reage ao entorno, além de coletar, por meio da fotografia, características recorrentes e, geralmente, reordenar ou ressignificar depois”, afirma a artista. Expor na CâmeraSete permitiu à Letícia experimentar outros formatos e dimensões que até então eram apenas ideias no papel. “Espero que esta experimentação possa abrir o debate em relação à fotografia nos dias de hoje e que possa sensibilizar a percepção sobre a paisagem urbana, fazendo as pessoas olharem as coisas de uma forma diferente”, conclui.

Sobre a artista: Letícia Lampert nasceu em Porto Alegre (RS), em 1978. Com formação em Artes Visuais, Design e mestrado em Poéticas Visuais, a artista vem desenvolvendo sua produção principalmente através da fotografia. Tem como eixo principal de pesquisa a investigação sobre as formas de compreender a paisagem, especialmente urbana, e as relações, mediadas pela arquitetura, que estabelecemos com as cidades. Teve seu trabalho destacado em salões e prêmios tais como o Prêmio Açorianos de Artes Plásticas - Fotografia, em 2009, Prêmio Aquisitivo no Salão Unama de Pequenos Formatos, em 2012, Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger e III Prêmio Itamaraty de Arte Contemporânea, ambos em 2013, entre outros. Participou de residências artísticas no Brasil e no exterior sendo elas The Swatch Art Peace Hotel - China, Residência FAAP e Hermes – São Paulo, Kaaysá – Boiçucanga e Pier 2 - Taiwan. Desde 2016 tem ministrado oficinas sobre arte, fotografia e publicações independentes em diferentes cidades do Brasil.

HISTORIA PARA FANTASMAS

Daniel Antônio

A exposição História para fantasmas é a primeira individual do artista mineiro Daniel Antônio, que vive e trabalha em São Paulo. Com curadoria de Wagner Nardy, o projeto apresenta 16 trabalhos, entre vários polaroides, pôsteres, fotogramas e fotografias analógicas, que misturam imagens do próprio artista e outras encontradas ou compradas. A utilização da técnica do fotograma, e sua imagem em negativo, é uma das marcas da exposição, que conta com diversas montagens inéditas. “Trabalho com narrativas poéticas e apropriação de fotos antigas, e a ideia foi reunir trabalhos que tivessem uma forte carga poética e, ao mesmo tempo, questionassem – de forma direta ou não – o passado, o dispositivo fotográfico e a história da imagem”, conta o artista.

O título da exposição é também o nome de uma das séries, um políptico com vários fotogramas nos quais imagens antigas apropriadas aparecem em negativo ao lado de pontos brancos no papel fotossensível. O mistério dessas imagens, suas lacunas e o passado histórico contido ali levaram à nomeação da mostra, como explica o artista.

“Procuro criar novos sentidos para todo esse acervo por meio de associações improváveis, que expandem o sentido inicial de cada foto. Esse processo analógico consiste numa impressão direta, com todos os claros, sombras, distorções e deformações provocadas por objetos – entre eles outras fotografias – colocados sobre um papel fotossensível”, explica. Além dessa técnica, a exposição reúne trabalhos em colagem, polaroide, objetos e filme 35mm.

Segundo Daniel, a distribuição das fotografias será organizada de forma orgânica. “Procurei dispor as imagens como num livro de contos no qual uma história parece se infiltrar na outra, criando um grande mosaico de narrativas. A ideia é discutir a materialidade da arte fotográfica e sua potência estética por meio de narrativas poéticas criadas a partir de associações de imagens, muitas vezes sem uma conexão direta”.

Para o artista, ter a chance de apresentar uma exposição na Câmera Sete é uma forma potente de divulgar sua arte. “Me sinto privilegiado em ocupar um espaço tão importante. O processo de criação dessa mostra tem sido incrível por ser a primeira vez que organizo uma quantidade grande do meu trabalho. Muitas obras foram criadas especialmente para o espaço”, conta Daniel, que tem a certeza de que a exposição será um marco em sua carreira.

Sobre o artista: Daniel Antônio de Oliveira nasceu em Divinopolis (MG), no ano de 1978. Vive e trabalha em São Paulo (SP). Tem Mestrado em literatura francesa – Universidade Sobornne Paris IV (2012-2013), Mestrado em Cinema (bolsa Alban) – Universidade Paris‐Est Marne ‐la- Vallée (2007‐2009), e é graduado em Jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte - UNI – BH (2003), em Belo Horizonte, Brasil.

Foto:Leticia  Lampert

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