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"Certa vez, Ariano Suassuna disse: 'No meu entender, o ser humano tem duas saídas para enfrentar o trágico da existência: o sonho e o riso'. Hoje, tenho certeza de que o sonho e o riso estão na arte". A reflexão é do ator e diretor teatral mineiro Cássio Pinheiro. Com longa trajetória no fazer cênico e na gestão cultural, ele assina a direção do espetáculo "Concerto Para Bebês do Brasil", que estreou em 2017, em Belo Horizonte. Trabalhando aspectos sensoriais ao misturar música e artes cênicas, a peça é direcionada para a primeira infância: de zero a cinco anos. A próxima apresentação, que acontece no dia 11 de maio, terá um motivo especial: tratam-se de duas sessões que serão realizadas em Brumadinho, na véspera do Dia das Mães, com o intuito de levar arte e alento aos afetados pela tragédia ambiental que acometeu a cidade em janeiro deste ano. Serão duas sessões gratuitas, que ocorrerão no CRAS Brumadinho e no Córrego do Feijão.

Cássio Pinheiro conta que a decisão de levar o espetáculo a Brumadinho partiu de amigos que vivem na cidade e tiveram suas vidas afetadas drasticamente pela tragédia. "Tenho parentes que moram lá, que perderam casa, amigos, esperança. Um amigo chegou a ficar ilhado durante 15 dias, antes de ser resgatado. Então, estamos indo com a peça muito em função da provocação desses amigos que moravam lá", conta. "Temos que pensar, também, em levar a arte para a cidade como uma abertura de horizontes, para que as pessoas que lá vivem possam seguir em frente. A cultura por si só é social. Ela não precisa fazer esforço para ser social. A arte é um contraponto necessário para o sistema. É a crítica, para que esse sistema se renove", completa.

Espetáculo Sensorial

O diretor explica que um dos principais pontos de "Concerto Para Bebês do Brasil" é o emocionante envolvimento gerado pelos bebês. "O espetáculo trouxe coisas para mim coisas que pensei que nunca conseguiria ver nem fazer. Por exemplo, você presenciar uma criança de oito meses engatinhando em direção a um instrumento musical e colocar a mão, totalmente aberta, confiando em um desconhecido, que é o músico. E a mãe, encantada com aquela liberdade. Quando ela volta para o colo da mãe, elas têm uma troca. É muito bonito", sublinha. "O artista é um profissional dos sonhos, das emoções, então quando o artista vê isso ele sente que a função dele foi cumprida. Ele conseguiu levar beleza, linguagem, tocar uma pessoa totalmente desconhecida. A emoção do espetáculo está em cumprir justamente essa função".

Criado em 2016, o espetáculo foi inspirado em "Concerto Para Bebês de Portugal", de Paulo Lameira, que veio ao FIT-BH dois anos antes. A estreia aconteceu em 2017, com temporadas no Teatro Francisco Nunes e no Teatro Marília. Depois, circulou também pelo Teatro Raul Belém Machado e o Teatro Bradesco. Único ator em cena, Luiz Gomide conduz a dinâmica do espetáculo, que conta com sete multi-instrumentistas, que se revezam entre diferentes timbres e sonoridades. "Nós temos acordeom de 16 baixos, contrabaixo acústico, viola caipira, cavaquinho. São oito tipos de flauta de madeira, três tipos de flautas de metal, saxofone e muita percussão", explica. "Usamos muito sons que não são articulados, soltos, para trabalhar essa coisa da criança, que tem o ouvido completamente aberto, que vai juntando os sons. Depois, vamos para o som articulado e para as vozes, terminando com os artistas cantando à capela uma música de Milton Nascimento", afirma, ressaltando que a direção musical é de André Durval.

Pinheiro, que também assina a iluminação e o roteiro, diz que trata-se de um concerto de chão, com um figurino simples (todos de preto, cor de fácil entendimento para bebês da primeira infância), em que jogos de luz e sombra dão um recheio especial. O foco, porém, é na música. "Tentamos trabalhar o simples com o que temos de mais qualidade na música brasileira, que é Tom Jobim, Villa-Lobos, Carlos Gomes, Egberto Gismonti, Edu Lobo, Guerra-Peixe, Milton. Usamos a diversidade de timbres e tons, médios, agudos e graves, trabalhando sensorialmente o ouvido da criança", ressalta. "Enquanto isso, Luiz Gomide, hoje um dos atores mais completos que o Brasil tem, conduz a dinâmica da peça e a interação com os bebês e as mães, com o auxílio dos músicos, que também fizeram uma preparação para essa interação".

O elenco de músicos é formado por Acácio Gonçalves (contrabaixo acústico), Ana Roberta Rezende (flauta transversal, flauta doce e canto), Ninno Miranda (viola caipira, cavaquinho), Leandro Skald (flauta transversal, saxofone e canto), Max Hebert (acordeom e saxofone) e Raniele Barbosa (percussão e canto).

Sobre Cássio Pinheiro

Formado como ator e diretor pela EAD, da USP, Cássio Pinheiro já foi dirigente sindical e liderança no setor artístico no Brasil inteiro. Produziu, dirigiu e atuou em peças que foram marcantes no país, como "A Comédia do Sexo", dirigindo o grande ator de comédia Rogério Cardoso. Fez também os espetáculos "Menino do Dedo Verde" e "Peter Pan", superprodução que ficou 19 anos em cartaz viajando pelo Brasil. Foi diretor do FIT-BH, entre 2013 e 2015, época em que também trabalhou na Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte, criando a Diretoria de Artes. Em 2014, foi responsável pela programação de uma das edições mais diversas da história do FIT, que teve espetáculos como "Concerto Para Bebês de Portugal", de Paulo Lameira. Desde 2016, voltou a trabalhar exclusivamente com produção e direção teatral, tendo "Concerto Para Bebês do Brasil" como seu principal projeto.

Foto: Divulgação