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Nova exposição: VISLUMBRES DE UMA HISTÓRIA DE CINEMA

Criadora do pôster especial do filme "Bacurau", Clara Moreira faz exposição retrospectiva no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, iniciativa da GAL e FEST Curtas

GAL Arte & Pesquisa, em parceria com o 21o FestCurtas e a Fundação Clóvis Salgado apresenta Vislumbres de Uma História de Cinema, primeira exposição individual da artista pernambucana Clara Moreira em Belo Horizonte, em que cartazes de cinema são apresentados como obras de arte. Desde 2006, Clara Moreira produziu 67 cartazes para filmes e festivais de cinema — incluindo a identidade visual da Semana dos Realizadores, do Rio de Janeiro, e da Janela Internacional de Cinema do Recife, onde vive e trabalha. Neste período, nenhum outro artista gráfico acompanhou tão de perto e de forma exclusive a produção do cinema independente brasileiro como Clara, que utiliza desenhos feitos a mão, utilizando técnicas como o desenho em lápis de cor, em grafite, pastel seco, pastel oleoso, tinta acrílica, nanquim e carvão, sem intervenção digital.

O cinema independente brasileiro dos últimos 13 anos foi acompanhado pelas mãos de Clara. Destacam-se desenhos para filmes de baixo orçamento que tiveram boa recepção crítica, como as produções mineiras Ela Volta na Quinta, de André Novais Oliveira, A Cidade Onde Envelheço, de Marília Rocha e Material Bruto, de Ricardo Alves Jr. Clara realizou ainda trabalhos múltiplos com Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, Gabriel Mascaro e Kleber Mendonça Filho.

Deste último, de quem já desenhou Recife Frio e O Som ao Redor, a artista produziu o cartaz especial de Bacurau, que estreia em Belo Horizonte também no dia 30/08. Sobre o desenho para o filme premiado no Festival de Cannes, diz: “A principal característica do bacurau é que ele é um superpredador. Ele tem um bico bem pequenininho, mas o rasgo da boca é imenso, porque ele come inclusive insetos grandes, como vespas. Ele caça e come voando, ele abocanha esses insetos no voo. É uma cena rara de ser captada. Isso traz a gente para uma frase que é dita no filme: “É um bicho brabo, que só sai à noite.” Então foi natural que ele fosse desenhado à noite, quando está ativo, caçando, sobrevivendo. Esse ataque nada mais é do que ele sobrevivendo.” O cartaz especial de Bacurau integra Vislumbres de Uma História de Cinema e também uma seleção de 20 desenhos originais da artista e outros 40 cartazes de cinema.

Os desenhos, sempre feitos à mão, mostram o processo para além do produto gráfico que é o cartaz. Sobre seu método, Clara diz: “É impossível ter um método, porque como eu trabalho dentro desse ambiente da produção independente — curtas-metragens e pequenos filmes de baixo orçamento — digamos que é tudo muito pessoal, a partir da direção. Às vezes o realizador tem uma imagem bem esquematizada do que ele quer ver num cartaz. Mesmo assim atravessa o corpo e vira uma coisa que passou por dentro de mim. Leva um pouco do meu momento, dos meus interesses, curiosidades, desejos, sentimentos. Passa por mim, mas a provocação e a inspiração vêm também desse mergulho no outro, desse mergulho no filme.” Ainda para Clara, o cartaz de cinema precisa despertar algum tipo de saudade, “sabe quando você quer levar um cartaz pra casa? Foi em busca desse sentimento que eu comecei a fazer cartazes de cinema, porque eu mesma era e ainda sou colecionadora e ladra dos cartazes dos filmes que amei”.

Desde 2016, Clara também tem participado de exposições, ocupações e feiras de arte com obras autorais, experimentando com o desenho figurativo e simbólico no debate da arte contemporânea. Seu gosto pelo desenho vem principalmente dos estímulos que recebeu da família, na infância vivida no Recife. “Meu pai é artista, ensinou-me técnicas de desenho e pintura, fazia arranjos com flores para casamentos, adereços para blocos de carnaval, escrevia peças de teatro, poesia, inventava músicas, mas ele não pôde se arriscar viver da arte. Essa é a realidade da maioria dos artistas do subúrbio. Minha mãe, pedagoga, estava sempre falando sobre liberdade e sonhos a partir das suas leituras de Paulo Freire. Minha avó paterna era habilidosa costureira, organizava as festas da comunidade e nos envolvia nas apresentações de teatro e dança e outras produções culturais de bairro, incluindo procissões, desfiles, pastoris. Minha avó materna era dona de casa e cuidou de 10 filhos, estava sempre crochetando, e eu olhava as suas mãos naquele trabalho tão longo e miúdo. Acho que esse olhar para as agulhas das minhas avós tem a ver com o tipo de desenho detalhado que eu comecei a fazer, esse rendilhado em lápis de cor que eu faço, vem da memória das mãos das minhas avós. Ninguém da minha família pôde viver das suas produções artísticas. Ser artista é um imenso privilégio num país como o Brasil. Por sorte e por vingança, por causa dos meus que eram artistas sem poderem ser, eu estou aqui também, tentando ser artista”.

Uma seleção dos trabalhos expostos em Vislumbres de Uma História de Cinema estão disponíveis para venda pela GAL. O cartaz especial de Bacurau está a venda por R$50,00 (Cinquenta reais).

Vislumbres de Uma História de Cinema integra a programação do Festival Internacional de Curtas de BH, que realiza ainda, no dia 3 de setembro, o debate “Filmes e(m) cartaz: cinema, artes visuais e artes gráficas”, com a presença da artista. A primeira exposição retrospectiva de Clara Moreira foi realizada em abril de 2019, uma iniciativa do Festival de Cinema Luso Brasileiro em Santa Maria da Feira, Portugal, com o título “Dez anos do cinema brasileiro através do olhar de Clara Moreira”.

CLARA MOREIRA (1984, Recife - PE)

Clara Moreira é artista visual, desenhista, nasceu e mora no Recife. Sua pesquisa artística desenvolve-se no uso do desenho como linguagem de franca comunicação. Fez mais de 60 cartazes de filmes e festivais de cinema no contexto da produção independente do cinema brasileiro, utilizando desenhos feitos à mão. Sua primeira exposição retrospectiva de cartazes de cinema foi realizada a convite do Festival de Cinema Luso-Brasileiro de Santa Maria da Feira (2019), em Portugal. Participou das exposições coletivas: “Esperança faz amor” (GAL#002, Praça Raul Soares, 2018), “Para existir“ (Grupo Phantom5, 2018), “A noite não adormecerá“ (galeria Amparo 60, 2018), “Prato de artista“ (galeria Maumau, 2017), “Delas“ (galeria A Casa do Cachorro Preto, 2017). É Mestre em Arquitetura e Bacharel em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Pernambuco.

GAL Arte & Pesquisa

GAL é um projeto independente voltado à pesquisa e circulação da arte contemporânea brasileira. Propõe um modelo alternativo ao praticado por galerias e instituições de arte tradicionais, buscando outros contextos para artistas mostrarem suas produções junto a público e colecionadores diversos. Seu objetivo é permitir a continuidade da pesquisa e produção artísticas apesar das condições adversas de nosso país, enaltecendo o papel transformador da arte. GAL é um projeto desterritorializado, realizando exposições em espaços em desuso ou ocupando temporariamente espaços culturais. Disponibiliza um acervo de obras selecionadas para venda online, em um modelo transparente que resulta no financiamento de suas ações. GAL trabalha em grande proximidade com artistas de trajetórias e interesses diversos, seus principais interlocutores. Valoriza a ideia de colaboração e reúne em seu programa pesquisadores, críticos, curadores além de parceiros de diferentes áreas de atuação, como arquitetura, cinema e publicação gráfica. GAL - as três letras iniciais da palavra galeria - é um projeto de inícios, vislumbrado por Aline Xavier e Laura Barbi em Belo Horizonte, desde 2018.

Foto: Divulgação 

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