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MEMORIAL VALE ABRE A EXPOSIÇÃO “VOZES ATLÂNTICAS”

O Memorial Vale abre, no próximo sábado, dia 9 de novembro, às 11 horas, a exposição “Vozes Atlânticas” da pesquisadora Thaís Tanure, dentro do projeto Novos Pesquisadores do Memorial Vale. Nessa mostra ela revela o que descobriu em sua pesquisa acadêmica sobre a ação da inquisição portuguesa no Brasil no século XVIII, dando pena de degredo para cidadãos que praticavam atos considerados heresia ou feitiçaria. O destaque da pesquisa é dado para dois africanos escravizados e trazidos para o Brasil – Luzia Pinta e José Francisco – que, por preservarem práticas de sua cultura – benzeções, curas com ervas, entre outras tradições – foram degredados para regiões distantes do Brasil e de sua pátria original. A exposição mostra fotografias e objetos da época, contando os passos desses dois personagens nos lugares onde eles viveram e resistiram a toda a opressão portuguesa. Entrada gratuita, no horário de funcionamento do Memorial Vale. A exposição segue até o dia 2 de fevereiro de 2020.

No dia 26 de novembro, terça-feira, às 12h30, também no Memorial Vale, Thaís Tanure falará com o público sobre sua pesquisa. O estudo de Thaís segue os passos de Luzia Pinta e José Francisco em Angola, Uidá, Rio de Janeiro, Sabará, Lisboa, Castro Marim e galés. Mesmo perseguidos pela Inquisição e passando por sucessivos processos de desenraizamento, essas pessoas resistiram e lutaram para viver segundo suas culturas, buscando espaços para decidir sobre seus destinos.

Thaís explica que o degredo foi uma pena longeva em Portugal e seus espaços coloniais, e consistia em afastar o condenado de seu local de residência enviando-o para uma região distante ou colonial. “Iremos discutir em que bases filosóficas se assenta a pena de degredo e seus ecos na contemporaneidade”, explica Thaís.

As principais fontes trabalhadas são os processos inquisitoriais da Inquisição portuguesa. Denunciados ao Santo Ofício por delitos como feitiçaria, curas supersticiosas, sodomia e bigamia, as acusações continham muitas vezes traços culturais africanos desconhecidos aos olhos dos inquisidores. “Buscando decompor o discurso da Inquisição e perseguindo esses traços culturais - na esteira de Carlo Ginzburg - discutiremos o processo inquisitorial como fonte histórica e suas possibilidades de utilização para o estudo das culturas africanas e do degredo de escravizados”, acrescenta.

Visto como mercadoria no direito civil e comercial e como pessoa imputável no direito penal, o estatuto jurídico ambíguo do escravizado também é analisado. Essa ambiguidade leva ao fato de que os senhores ficavam sem a mão de obra de seus cativos durante o tempo de cumprimento da pena, e alguns deles protestaram escrevendo cartas ao Santo Ofício.

“Tendo como metodologia a História Atlântica, observaremos os escravizados que moravam no Brasil e que foram perseguidos pela Inquisição e degredados passarem por uma nova travessia e por um novo processo de desenraizamento. Mas não sem resistir”, completa a pesquisadora.

Foto:Divulgação

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