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Novo livro de escritor mineiro disfarça de novela uma alegoria freudiana

Em seu novo livro, Dona: um conto freudiano, autor mineiro Bernardo E. Lopes usa o "mundo mágico" dos parques aquáticos que mantêm orcas em cativeiro para pintar uma história sobre os reflexos de nossos pais em nosso comportamento.

"Alguém que desdenha da chave jamais será capaz de destrancar a porta", dizia Sigmund Freud, médico austríaco criador da psicanálise, que viveu de 1856 até 1939. Embora muitas de suas teorias sejam hoje refutadas, Freud inegavelmente trouxe à tona as complexidades dos sentimentos humanos; o quanto nossa relação com nossos pais, por exemplo, é permeada de amor e de vários tipos de comportamentos problemáticos — aos quais tendemos a permanecer fiéis por muitos e muitos anos, não importa quão destrutivos sejam. Em seu segundo livro, publicado pela Metanoia Editora, do Rio de Janeiro, o autor mineiro Bernardo E. Lopes, de 30 anos, envolve Randolfo, seu personagem principal, em uma espiral de sentimentos conflituosos relativos à sua própria unidade e às suas lacunas.

 

Nesta pequena novela escrita em terceira pessoa e com nada mais que 60 páginas, o treinador de orcas Randolfo é uma figura dúbia: aclamado e respeitado pelo público e pelo staff do parque aquático americano em que trabalha, o brasileiro leva uma vida de angústia nos bastidores. Randolfo vive as vicissitudes de uma paixão — correspondida ou não?, essa é a dúvida — pelo colega de trabalho Will, um americano de personalidade carinhosa e não por isso menos escorregadia. Escorregadia e carinhosa é também Dona, a orca que dá título à história, essa figura feminina poderosa, cuja natureza — selvagem e boa; é possível ser as duas coisas juntas? — é domada diariamente nas piscinas de água salgada do parque. Junto a Randolfo, Dona protagoniza os incríveis números que atraem turistas de todo o mundo, e é em Dona que Randolfo, longe da família, parece encontrar conforto para o conflituoso jogo amoroso do qual ele há anos não consegue se livrar.

 

Bernardo E. Lopes descobriu nessa história um caminho para especular os constantes impulsos amorosos autodestrutivos, e transforma Dona: um conto freudiano em uma alegoria sobre o quanto as forças reprimidas dentro de nós podem nos levar mais tarde a riscos que antes não prevíamos. Isso fica representado pela atitude estranha com que a outrora dócil Dona resolve atacar seu principal treinador Randolfo em plena performance de seu número principal.

 

Dona: um conto freudiano é uma deliciosa narrativa visual que vem não só para arrebatar leitores através de sua graciosa storyline como para convidar, a quem as profundezas interessar, para uma introspectiva análise dos padrões que se insinuam pela história de seu protagonista.

 

Sobre o autor

Nascido na cidade histórica mineira de Sabará, onde ainda vive, Bernardo E. Lopes é um apaixonado por Literatura e outras formas de investigação sobre a natureza humana, como a Psicologia. Formado em Estudos Literários, é professor de Língua Inglesa e escritor. Escreveu o romance O que disse o Imperador, de 2016, também publicado pela Metanoia, editora carioca premiada pelo trabalho de difundir Literatura sobre Gênero e Sexualidade, abrindo as portas do mercado editorial para autoras e autores LGBTI e para obras que refletem a diversidade das expressões humanas.

Foto: Guilherme Barros

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